<span class="sans"></span>Análise de podcast pela perspectiva metodológica da roleta interseccional

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Carolina Salles Carvalho
João Alexandre Peschanski

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volume 5 / número 1 / jul 2024 ↘ Artigo

Análise de podcast pela perspectiva metodológica da roleta interseccional

Carolina Carvalho & João Alexandre Peschanski

Resumo

O artigo faz uma análise da primeira temporada do podcast Rádio Batente, adotando como alicerce teórico-metodológico a Roleta Interseccional, proposta por Fernanda Carrera. São identificados os eixos “Formação interseccional-discursiva”, “Ethos interseccional” e “Negociações interseccionais” e são expostas as situações e estratégias identitárias no podcast. Sob a perspectiva da Comunicação, discutem-se tópicos como a questão da autoria em um produto marcado pela presença de múltiplas vozes e pela edição maciça, e busca-se entender as potencialidades e limites dessa proposta para esse tipo de mídia. Por fim, o trabalho busca compreender como os estereótipos marcam os profissionais e os discursos sobre si, bem como refletir sobre como a imersão propiciada pelo uso dos recursos sonoros e pela transformação dos jornalistas em personagens permitiram colocar em pauta a interação com o internauta-ouvinte, mesmo em uma mídia, a priori, unidirecional.

1. Introdução

O artigo tem como proposta analisar a primeira temporada do podcast Rádio Batente (Jornadas), veiculado pela ONG Repórter Brasil, identificando potencialidades e limitações da metodologia da roleta interseccional, formulada para a compreensão científica de objetos comunicacionais. Tal investigação empírica adota a perspectiva da interseccionalidade e busca contribuir para a discussão sobre como os produtos midiáticos podem revelar, denunciar ou reverberar desigualdades e opressões silenciadas, colocando sob a luz dos holofotes as relações de poder que influenciam a vida em sociedades marcadas pela diversidade (Collins & Bilge, 2021).

A roleta interseccional é uma proposta teórico-metodológica que coloca em evidência as relações intersubjetivas e as negociações identitárias nos produtos midiáticos. Aplicar essa perspectiva em um produto de mídia novo e, com isso, expor a sua lógica de funcionamento e ampliar o seu uso, é, por si só, uma contribuição ao campo. Mas chama a atenção o fato de que as principais publicações sobre a roleta interseccional tenham investigado redes sociais em que há interação direta entre transmissor e receptor, especialmente o Instagram (Carrera, 2021a; 2021b); sendo assim, é oportuno questionar em que medida a proposta de Carrera aplica-se adequadamente ao estudo de um podcast? Quais são as potencialidades e os limites da roleta interseccional nesse caso?

Este artigo inicia-se com uma apresentação do marco teórico, seguida de uma exposição da proposta teórico-metodológica da roleta interseccional. Na sequência, há a análise do podcast Rádio Batente (Jornadas), a partir dos eixos principais da perspectiva de Carrera: Formação interseccional-discursiva, Ethos interseccional e Negociações interseccionais.

1.1.Marco teórico e recorte histórico inicial: primeiras aproximações

Como ferramenta analítica, a interseccionalidade considera que diferentes categorias são inter-relacionadas e moldam-se, mutuamente, adotando como marcadores a raça, a classe, o gênero, a orientação sexual, a nacionalidade, a etnia, a faixa etária, entre outros. “A análise interseccional privilegia a discussão de experiências e vivências que articulam categorias que, historicamente foram conceituadas isoladamente como, por exemplo, quando pensamos a o gênero sem darmos atenção aos marcadores raciais, ou de classe, que atravessam determinada experiência” (Díaz-Benítez & Mattos, 2019, p. 67).

Proposto na década de 1980, o conceito de interseccionalidade nasce da percepção das ativistas negras norte-americanas de que as suas necessidades relacionadas às questões laborais, à educação e à saúde eram ignoradas em movimentos sociais antirracistas, feministas e naqueles encabeçados por sindicatos atuantes em defesa da classe trabalhadora. “Cada um desses movimentos sociais privilegiou uma categoria de análise e de ação em detrimento de outras: por exemplo, raça no movimento em favor dos direitos civis; gênero no movimento feminista; classe no movimento sindical” (Collins & Bilge, 2021, p. 17).

1.2.Revisão de literatura: presença nas pesquisas brasileiras

Sifuentes (2022) fez um mapeamento das pesquisas em Comunicação que articulam gênero, raça e classe, apresentadas nos Encontros anuais da Compós – associação que reúne os Programas de Pós-Graduação em Comunicação de instituições de ensino superior públicas e privadas no Brasil – entre 2011 e 2020. Além de esmiuçar a presença dessa tríade, a autora também investigou se a interseccionalidade estava presente nos cruzamentos empíricos ou se foi utilizada como alicerce teórico em trabalhos que investigam as produções em plataformas digitais, aprofundando a discussão sobre a democratização das representações dessas três categorias nessas mídias.

De acordo com o levantamento, 26 trabalhos foram pautados na interseccionalidade, o que equivale a 1,5% do total, sendo que 22 deles articularam raça, gênero e classe (isoladamente, como uma dupla ou um trio de categorias), incluindo dois artigos de autoria de Carrera, pesquisadora que embasa o presente artigo, sendo que, nos trabalhos em questão, ela investigou as representações de raça e gênero nos algoritmos em bancos de imagens digitais (Sifuentes, 2022).

Dentre os pontos ressaltados por Sifuentes, no mapeamento realizado, está a ausência de trabalhos relacionados à raça, justamente em um momento histórico efervescente para o movimento negro do país, o que leva a autora a concluir que a elite intelectual que se debruça sobre a Comunicação tem deixado de abordar a temática. Outra constatação é a concentração de estudos sobre recepção e consumo, com poucas contribuições ao grupo de trabalho relacionado às sexualidades e aos gêneros. Por fim, o artigo aponta que há um número maior de trabalhos no ano de 2020, em contraponto aos anos iniciais do levantamento, o que sinaliza um aumento recente de interesse dos profissionais de Comunicação pela interseccionalidade (Sifuentes, 2022).

Embora esses trabalhos ainda apareçam em pequeno número, verificamos uma clara tendência de crescimento e são claras as contribuições que esses estudos trazem, especialmente quando aliam discussões acerca das possibilidades – não concretizadas – de as plataformas digitais permitirem uma representação menos opressora desses grupos (Sifuentes, 2022, p. 24).

Uma busca por artigos em português no Google Acadêmico, por exemplo, utilizando-se as palavras-chave “Comunicação” e “Interseccionalidade” em qualquer ponto do texto, desde 2020, encontra um número, aproximadamente, de oito mil trabalhos. Quando essa busca pelas mesmas palavras-chave fica restrita aos títulos, as respostas reduzem-se a nove publicações, o que reforça o aumento de interesse por esse referencial nos últimos anos.

1.3. Interseccionalidade e Comunicação: especificidades do campo de estudo

Ao considerar a Comunicação como campo de investigação interseccional, tem-se a “interseccionalidade representacional”, que aponta a construção cultural e os sentidos marginalizados sobre os sujeitos, numa seara que abarca não só as produções midiáticas, mas que se faz presente nas relações sociais, inclusive acadêmicas: para Carrera, todos os produtos jornalísticos, publicitários e de mídia de massa – da fotografia aos modos de interação assíncrona propostos pelas tecnologias digitais – podem ser investigados a partir de uma metodologia própria.

(…) todas essas manifestações e seus aparatos são objetos de análise comuns em estudos da Comunicação e, também, estão sujeitos à reprodução e reforço de dinâmicas de opressão interseccionais. É sob a égide desta acepção que é proposto aqui um caminho metodológico inicial, denominado roleta interseccional; uma ferramenta discursivo-operacional que pretende identificar os rastros da interseccionalidade nas diversas expressões e experiências comunicacionais, sem perder de vista, é claro, sua motivação elementar: a reivindicação pela dignidade (Carrera, 2021a, p. 6).

Já ao considerar as especificidades da mídia podcast, é interessante ressaltar um ponto abordado por Carrera, quando ela esmiúça as particularidades de produtos audiovisuais.

Nesse sentido, possivelmente, a linguagem geolocalizada materializada pelos sotaques, por exemplo, pode ser extremamente iluminada em produtos audiovisuais, mas passar relativamente despercebida em imagens estáticas. É claro que o sujeito (representado na roleta pela circunferência central) é todo atravessado pela roleta e toda ela, além da junção com outros fatores, vai ajudar na sua constituição identitária. No entanto, a situação comunicacional não necessariamente mobiliza todos os atravessamentos (Carrera, 2021a, p. 12).

2. Metodologia

2.1. Da teoria ao empirismo: uma proposição investigativa

Carrera (2021a; 2021b) apresenta operadores analíticos e ferramentas epistemológicas viáveis no campo da Comunicação, buscando identificar como os rastros dessas hastes estão presentes nas interações cotidianas, na Comunicação midiática e nas representações discursivas. Baseada e completamente atrelada à iniciativa de Crenshaw (1989), que tinha como princípio a busca por igualdade em sistemas jurídicos, nessa seara, busca-se perceber como opressões interseccionais rasuram a subjetividade, os discursos, os produtos e os espaços comunicacionais e podem ser fundamentais para composição dos sujeitos e dos seus comportamentos em interação. Nesse sentido, não se negligencia aqui o ethos de justiça social, essencial a qualquer aplicação do conceito (Carrera, 2021a, p. 9).

A pesquisadora propõe uma roleta interseccional para direcionar as perguntas de pesquisa em Comunicação, sendo que a proposta é justamente questionar se determinada categoria é importante para o entendimento daquele objeto ou de que maneira deixaria rastros na materialidade comunicacional (Carrera, 2021a). Nesse contexto, tal instrumento é formado por hastes, que representam as avenidas identitárias fundamentais, brevemente descritas abaixo:

O marcador “gênero” é essencial para entender os avanços conquistados pelos estudos feministas além de abarcar concepções renovadas sobre masculinidades, cisgeneridade compulsória e cisnormatividade (Carrera, 2021a). Já a questão da “raça” é fundamental na metodologia interseccional por permitir a compreensão de como o racismo opera sobre os sujeitos, tanto pela sua representação e pelas práticas de violência quanto pela via do silenciamento, com a exclusão desse tema do debate na Comunicação. “Na metodologia da roleta interseccional, é essencial localizar de que forma a racialização é implicada no objeto, seja pelas escolhas discursivas, pelas marcações identitárias como pelos comportamentos sociais empreendidos” (Carrera, 2021a, p.5).

O marcador “classe” é importante pelo impacto que o marxismo tem nas ciências sociais, sendo oportuno reforçar que, geralmente, esse marcador e, por consequência, a desigualdade é resultante de um conjunto de fatores que ultrapassa a conjuntura econômica. Ao direcionar a problemática para a área da Comunicação, por exemplo, faz-se necessário compreender a influência da “classe” na construção dos sentidos, além de investigar como esse marcador estabelece limites interacionais para as apropriações por meio da linguagem e dos comportamentos sociais (Carrera, 2021a).

O marcador “geolocalização”, usualmente, é materializado por meio do corpo e no domínio da comunicação, pela oralidade, pelo modo como as interações acontecem e pelo comportamento dos sujeitos, demarcando quem pode ou não existir. Na seara da Comunicação, é imprescindível apontar os efeitos da colonialidade sobre os sujeitos, que tendem a estigmatizar e estereotipar, evidenciando preconceitos linguísticos e a consequente hierarquização dos sujeitos, além de resvalar no risco da mídia representar as pessoas de maneira caricata, por exemplo (Carrera, 2021a).

O marcador “peso” coloca em pauta o corpo gordo, usualmente, atrelado ao fracasso estético, à marginalização e ao sentimento de inadequação social: “o sujeito gordo sente a exclusão social no plano estético, no âmbito do trânsito social e, inclusive, no acesso a direitos fundamentais, uma vez que há patologização do corpo gordo por meio da construção da doença da obesidade” (Carrera, 2021a, p.6). Nesse contexto, também é preciso considerar que homens e mulheres gordos ocupam lugares diferentes socialmente, tendo como referencial a assimetria em relação às expectativas e aos estigmas compartilhados socialmente. Na roleta interseccional, o termo peso designa parâmetros que classificam o corpo como magro ou gordo, extrapolando o entendimento médico-científico – atrelado ao conceito de Índice de Massa Corporal – para valorizar a percepção social do peso em relação ao sucesso ou ao fracasso (Carrera, 2021a).

Já o marcador “idade” reverbera como a sociedade costuma atrelar a velhice à percepção de decrepitude e a uma fase sombria, marcada por doenças e pelo temor à morte, além de ser vinculada ao isolamento social no fim da vida. Nesse cenário, é fundamental evidenciar que o processo de envelhecimento é atravessado por outras matrizes de opressão, com destaque para o marcador “classe”, já que a pobreza pode potencializar a experiência de marginalização e de abreviação da vida.  Sendo assim, pode-se utilizar o termo “velhices”, no plural, considerando-se a interação entre diferentes marcadores interseccionais (Carrera, 2021a).

A “deficiência” também está presente como um marcador na proposta de Carrera. Nessa temática, a pesquisadora aponta que tal condição é atrelada à incapacidade inata ou à necessidade de superação, acompanhadas pelo sofrimento e pela pena, aprisionando o sujeito numa rede de estereótipos, que legitimam a exclusão. Ao se considerar a produção midiática, com destaque para a publicidade, nota-se a tendência de apresentar uma visão que homogeneíza as diferentes deficiências, desconsiderando as especificidades de cada condição, além de existir uma tendência a comercializar a piedade, reforçando uma abordagem capacitista sobre o assunto (Carrera, 2021a).

O marcador “sexualidade” busca superar a biologização que acompanha essa temática, evidenciando de que maneira as dimensões políticas sobre a sexualidade e as disputas de poder envolvem os caminhos do desejo, tornando-se pilares importantes na construção do sujeito sob investigação pela Comunicação. Nesse sentido, é crucial compreender os efeitos da heterossexualidade nas marcações comunicacionais, considerando-se a cultura heternonormativa e os discursos vigentes em relação a um corpo legitimado. Ao ampliar a discussão, coloca-se em pauta, também, os discursos direcionados às minorias sexuais (Carrera, 2021a).

A partir desse detalhamento, essa segunda etapa da análise da roleta interseccional deve ser realizada considerando-se os três eixos: “Formação interseccional-discursiva”, “Ethos interseccional” e “Negociações interseccionais”. Vale pontuar que o primeiro deles alicerça a sua proposta no conceito de formação discursiva, de autoria de Michel Foucault. A partir dessa referência, Carrera aponta para a existência um sistema normativo-social que rege as pessoas, determinando performances verbais e comportamentais, em um agrupamento de regras que delimitam os sujeitos como objetos de um discurso. Sendo assim, não seria possível uma existência a priori. “Na metodologia da roleta interseccional, descrever as formações discursivas que regem cada eixo de opressão, portanto é identificar quais são os imperativos e quais são os silenciamentos aos quais os indivíduos por hastes iluminadas estão assujeitados” (Carrera, 2021a, p. 13).

O segundo eixo é o “Ethos interseccional”, que denominaria “(…) a silhueta imagética do sujeito construída no e pelo discurso, a partir das suas estratégias de enunciação” (Carrera, 2021a, p. 13), uma imagem que seria validada por interlocutores, a partir de coerções culturais e sociais vigentes em uma determinada época. Ressalta-se que tal imagem é intimamente ligada aos estereótipos presentes, sendo oportuno uma investigação aguçada para detectar situações normalizadas coletivamente justamente pela ausência de um olhar crítico que intervenha causando uma fissura no status quo: “(…) é relevante perceber não somente os estereótipos atribuídos a cada eixo que podem constranger as liberdades identitárias dos indivíduos, como também compreender as negociações, que acontecem nas interações e ressignificam os limites das suas existências” (Carrera, 2021a, p. 14).

Por fim, o eixo “Negociações interseccionais” se debruça sobre as interações sociais. Aqui, torna-se preponderante compreender que não existe uma essência que anteceda à interação com o outro, sendo que a própria constituição da identidade é entremeada pelo processo contínuo de se ajustar à realidade partilhada e de reagir às normas vigentes no entorno. De maneira sucinta, a formação da identidade só é possível a partir do contato social, o que nos leva a questionar: o quanto o quanto do senso de si é forjado a partir do outro? “Desse modo, dentro de cada formação interseccional-discursiva, diante de cada eixo de opressão, sujeitos negociam suas imagens de si, seus comportamentos e seus discursos, numa tentativa de gerenciar as impressões causadas e fazer valer a sua existência” (Carrera, 2021a, p. 15).

A partir dessa tríade, realiza-se uma análise dos cinco episódios com base na metodologia da roleta interseccional proposta por Carrera. Inicialmente, a própria autora publicou um estudo de caso comparativo para ilustrar a aplicabilidade de tal metodologia. No artigo científico, a pesquisadora analisou dois perfis de Instagram de influenciadoras digitais pautadas pelo movimento Body Positive, que tem como assinatura a “aceitação e valorização de corpos marginalizados, sobretudo aqueles que apresentam marcas visíveis da sua diferença – gordos, com deficiência, com cicatrizes ou marcas de envelhecimento, racionalizados” (Carrera, 2021b, p. 8).

Vale assinalar, nesse ponto, as especificidades midiáticas do Instagram e como são entrecortadas pelos três eixos da roleta interseccional. No tópico, “Formação interseccional-discursiva”, Carrera ressalta os temas abordados e assinala o fato de que, pela plataforma utilizada ser híbrida, é mais difícil fazer uma leitura que privilegie ora as imagens, ora o conteúdo audiovisual, separadamente. Evidentemente, uma particularidade que não encontra eco quando o objeto de investigação é um podcast (Carrera, 2021b).

Já ao se pensar no ethos interseccional, Carrera debruça-se sobre as escolhas enunciativas para a construção de um discurso sobre si, que pode ser “construído pelos conteúdos postados e pelas escolhas enunciativas materializadas nas imagens, na linguagem, nos produtos comunicacionais postos em circulação” (Carrera, 2021b, p. 14). É importante ressaltar que os dois perfis são contas pessoais, escritos em primeira pessoa. Como esse discurso de si pode ser avaliado em um podcast? Quem é o(a) protagonista? O jornalista que conduz uma narrativa ou o personagem principal, quando há um que se destaca? Não seriam o editor e o roteirista os verdadeiros detentores desse discurso já que podem conduzir a criação e a edição do texto, ainda que as suas vozes sejam “inaudíveis” no produto que chega ao público final?

Ao colocar em pauta esses questionamentos, pode-se reconhecer apontamentos que são decorrentes da escolha da roleta interseccional como método de análise, além de pontuar reverberações que também estão presentes na produção científica sobre podcasts narrativos que lançam mão do storytelling como estratégia para contar histórias. Nesse segundo caso, o papel do jornalista é revisitado porque a presença da subjetividade na descrição dos fatos tensiona a posição de destaque usualmente ocupada pelos sujeitos e assuntos que são foco da narrativa jornalística. Porém, mais do que hierarquizar o protagonismo dos personagens num podcast narrativo, busca-se ressaltar como esses papéis podem ser flexíveis.

A questão da autoria e como se relaciona com a análise interseccional da Comunicação segue um campo aberto de investigação, que vai além da expectativa de contribuição deste artigo. Portanto, a ambivalência sobre a autoria vinculada às escolhas enunciativas, influenciadas pela tecnologia da comunicação, não será aprofundada.

Por fim, ao esmiuçar o tópico “Negociações interseccionais”, Carrera coloca em primeiro plano a bidirecionalidade do Instagram como plataforma, analisando a interação das influenciadoras com seus seguidores, bem como a maneira como ressignificam as mensagens recebidas e as transformam em conteúdo. Aqui, materializa-se um desafio para um produto como o podcast, que é, à primeira vista, unidirecional e só permitiria essa troca se estivesse inserido em uma proposta transmidiática, o que não se enquadra nesta análise, interessada em compreender o produto singular e não o ecossistema de circulação do podcast em outras redes.

Uma leitura possível sobre a interação com o público seria a de que a própria experiência imersiva – definida como “capacidade de transposição da consciência para um outro ambiente seja imaginado ou sinteticamente criado” (Cordeiro & Costa, 2016, p.100) – também apresenta-se como uma característica inerente aos podcasts narrativos pela potencialidade que têm de convidar o outro a imaginar, participando ativamente do processo.

É importante lembrar que o áudio, por si só, também poderia se equiparar à imersão trazida por plataformas multimídias que dispõem de tecnologias sofisticadas, como os aparatos que permitem que o usuário tenha uma visão em primeira pessoa e em 360º de determinado acontecimento. A combinação de um bom equipamento com uma apurada arquitetura de som pode transportar o ouvinte para a narrativa e o local desejado (Maia & Capistrando, 2019, p. 10).

Nesse cenário, tanto o uso do storytelling na escrita do roteiro quanto a existência de recursos tecnológicos de áudio mais sofisticados permitem a vivência de uma experiência multissensorial e profunda de cada história, sendo que, nessa proposta, o ouvinte pode formular imagens durante a experiência da escuta do podcast e, consequentemente,  torna-se  mais ativo na construção de uma versão singular do produto em questão, permeada, evidentemente, pelo próprio repertório de vida.

3. Resultados

3.1. Descrição

A Rádio Batente é uma produção da Rádio Novelo para a ONG Repórter Brasil. Fundada em 2001, tal organização tem o objetivo de “fomentar a reflexão e ação sobre a violação aos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores no Brasil” (BRASIL, ONG Repórter, [s.d.]). Nesse cenário, o podcast tem o trabalho como tema central, sendo que o artigo analisa os cinco episódios da primeira temporada. Nela, o ouvinte acompanha um dia na vida de um servidor público (ou trabalhador terceirizado), atuante em segmentos considerados essenciais.

São personagens, na ordem de publicação dos episódios:  1. Um professor de artes da rede pública municipal paulistana; 2. Uma assistente social que trabalha em uma casa de acolhimento para homens em situação de rua, em Campinas (SP); 3. Uma dupla de profissionais da saúde (uma enfermeira e um agente comunitário de saúde), vinculados à uma Unidade Básica de Saúde paulistana; 4. Uma cobradora de ônibus que trabalha em uma linha entre uma região periférica de São Paulo e a região central; 5. Um bombeiro que atende o centro da capital paulista.

Os episódios foram publicados entre os dias 1º e 29 de julho de 2020, com periodicidade semanal. Um episódio padrão segue de maneira linear o dia do profissional, sendo que um jornalista vai “a campo”, enquanto outro comenta as situações apresentadas. Vale pontuar, também, que os episódios foram gravados antes da pandemia, mas há uma atualização, feita por chamada telefônica, videochamada ou mensagem gravada, durante a quarentena, e que foi incluída nos episódios justamente para fazer um contraponto entre a rotina usual de trabalho e a jornada profissional no cenário de isolamento social.

3.2. Análise e discussão

3.2.1 Primeira etapa da metodologia da roleta interseccional

Para a análise da primeira temporada, foi feita a transcrição dos cinco episódios da primeira temporada do podcast, sendo que a investigação foi pautada nas hastes propostas pela roleta interseccional, considerando-se não apenas a presença das palavras que nomeiam os marcadores e/ou sinônimos, mas, principalmente, a análise do conteúdo de maneira mais aprofundada, a partir dos recortes conceituais de cada marcador proposto por Carrera. Como estratégia de codificação analítica, foi utilizada a minutagem, tendo as falas dos personagens como marco temporal. A tabela abaixo, mostra as hastes da roleta que foram iluminadas em cada episódio, iniciando a análise a partir da metodologia proposta por Carrera.

Tabela 1. Tabela relativa à primeira etapa da roleta interseccional

Fonte: Autores

Nos cinco episódios, a haste transversal é a classe, uma espécie de espinha dorsal do programa. Essa constatação não surpreende, já que o foco do podcast é o trabalho. A haste de classe dá-se em dois sentidos: pela categorização social dos profissionais, mas, principalmente, quando se faz referência às populações atendidas e ao contexto de funcionamento dos serviços em destaque. O elemento de classe é, portanto, a posição que estrutura a posição social da pessoa entrevistada e a sua relação com outras pessoas.

Ao reconhecer a classe como marcador fundamental na construção das subjetividades e dos limites simbólicos que perpassam as análises comunicacionais, é preciso, no entanto, atestar que este marcador opera como estrutura fundamental atravessada e impregnada por outras diferenças. Isto é, há modos de exploração que ultrapassam a dimensão econômica e não podem ser explicados apenas a partir desta inscrição de desigualdade (Gonzalez, 2018). Para a Comunicação, entretanto, perceber a influência da classe na construção dos sentidos é compreendê-la como fundamental tanto para os limites interacionais que estabelece quanto para as apropriações dos sujeitos a partir da linguagem e dos comportamentos sociais (Carrera, 2021b, p. 5).

No primeiro episódio (O professor artista), as hastes de geolocalização, peso, deficiência e classe são iluminadas. O marcador de geolocalização é proeminente no ambiente escolar, já que entre 45% e 55% dos estudantes são filhos de imigrantes, majoritariamente, de origem boliviana, de acordo com dados disponibilizados no episódio. Ganha força o relato sobre o histórico de xenofobia, marcado pela violência física e verbal contra esses alunos estrangeiros – chamados de “o boliva”, “o boliviano”– um quadro que foi revertido satisfatoriamente pela inserção da dança tradicional boliviana no espaço escolar, numa proposta em que a arte torna-se ferramenta de aproximação, abrindo caminho para que as diferenças possam ser acolhidas.

De antemão, é importante destacar que a xenofobia afeta a maior parte de grupos migrantes, mas, ainda assim, deve-se mencionar a existência de uma questão de interseccionalidade. Não se pode considerar que todos os grupos enfrentam a xenofobia do mesmo modo, ou seja, diferentes fatores devem ser levados em consideração ao analisar a xenofobia contra determinado grupo, já que características como origem geográfica, cultura, gênero, cor, etnia, classe social e religião afetam a recepção desses estrangeiros nos países de destino (Peixoto., et al., 2021, p. 7).

O uso pejorativo de “apelidos” no ambiente escolar pode ser análogo ao uso de expressões como “baiano”, “paraíba”, que acompanham muitos dos migrantes nordestinos que chegam ao sudeste/sul. Evidentemente, essa homogeneização que aparece com a supressão do nome próprio desumaniza e apaga a singularidade de cada criança.

No Brasil, pessoas negras estrangeiras podem acionar lugares de privilégio e vantagem a depender do cenário, pela lógica da colonialidade que direciona muitas práticas e discursos vigentes aqui. Além disso, não se pode subestimar os impactos dos colonialismos internos (QUIJANO, 2002), que transformam   as   experiências   e   as   dinâmicas   de   opressão vivenciadas por pessoas negras nortistas e nordestinas quando estão localizadas em estados que representam o lócus do poder econômico brasileiro. Os mesmos sujeitos, portanto, podem protagonizar situações comunicacionais diversas, tanto de opressão quanto de privilégio, a depender da conjuntura que se estabelece ao seu redor (Carrera, 2021b, p. 3).

Já a haste relacionada ao peso evidencia uma possível lacuna não abarcada pelos marcadores propostos por Carrera, considerando-se que tal marcador aparece atrelado à saúde mental.

Então, a gente está um pouquinho preocupada com ele [aluno], no sentido dele tá um pouco deprimido. Vocês comentaram no conselho que ele tem dificuldade de interação com os colegas, ele está obeso e, aí, a Rosane falou para mim que, no intervalo do (inaudível), que ele pegou a corda que eles brincam de…ele simulou um laço para colocar na cabeça “assim”. Aí ela falou: “nossa, por que você tá fazendo isso né?” Aí, ele falou assim “Ah, é porque eu me sinto muito sozinho, eu não tenho nada nesse mundo”. (Sonora Professora, personagem do episódio 01: 33”37- 34’08”).

Se por um lado, a sonora reverbera uma percepção de Carrera (2021b) sobre a representação midiática do corpo gordo, por outro a questão do peso, nessa situação, parece estar relegada a um segundo plano, evidenciando o sofrimento psíquico como uma problemática que não se enquadra em nenhum marcador específico da roleta interseccional, já que não deixa, a priori, um registro corporal, embora possa perpassar os demais marcadores.

Se não é relegado ao lugar do riso, o sujeito gordo está ligado simbolicamente ao mal-estar e ao isolamento social. Estas associações são construídas pelos discursos da oralidade, mas, também, reforçadas pelas imagens midiáticas, jornalísticas e publicitárias. É, portanto, fundamental reconhecer que o peso adquire, na conjuntura sociocultural e histórica, um lugar significativo na produção das subjetividades, uma vez que constrange os limites possíveis de existência e desloca o sujeito da normatividade para a marginalização. (Carrera, 2021a, p.6)

Também é oportuno pontuar que, no primeiro episódio, o marcador da deficiência aparece por meio da informação de que existe um projeto pedagógico inclusivo na instituição de ensino.  Por fim, a haste da classe fica evidente quando o protagonista aponta que parte significativa dos alunos se encontra em situação de vulnerabilidade socioeconômica, sendo que o professor nomeia alguns dos bairros de moradia das crianças, o que mostra como a própria ocupação da cidade repercute as disparidades sociais e econômicas.

No segundo episódio (O trabalho da assistente social com moradores de rua), as hastes classe, gênero e raça se iluminam. A questão de classe é contundente na delimitação do público-alvo do serviço: homens vindos da rua, marcados pela miséria socioeconômica e não pertencentes à engrenagem produtiva que, de certa forma, nos confere identidade social.

Já a questão de gênero está presente na própria delimitação do público acolhido pelo serviço em pauta, mas que também é explicitada quando a assistente social, protagonista do episódio, relata o manejo das situações de assédio em um ambiente, predominantemente, masculino. O fato dela ser negra não é verbalizado no programa, ainda que a informação fique evidente pela foto de capa do episódio. Esse seria o único momento em que a díade gênero/raça, tão cara à interseccionalidade, ganha forma em todo o podcast, ainda que essa relação seja expressa nas entrelinhas.

Em alguns momentos eu tive que me impor.  Em outros, que eu, acho que isso é muito mais o que acontece de, assim, eu sou a Gisele, assistente social do serviço. Só isso dá um limite. E não é só com o morador né porque isso é estrutural (…). Então, assim, de pessoas que chegam em mim e diz assim ‘nossa, mas eu amo você’ e vem para pegar no meu cabelo e aí eu digo olha, então, peraí, vamos conversar, o limite é esse aqui, eu tô aqui, eu sou profissional, a nossa relação não passa disso’. Fica mais fácil, do que você mascarar (Sonora Assistente social, protagonista do episódio 02: 30’33” – 31’47”).

Nesse contexto, uma reflexão interessante pode ser feita para a compreensão que entrelaça gênero e raça.

(…) tanto racismos quanto sexismos podem ser entendidos como fenômenos complexos de poder que operam no contexto de atribuição de diferenças categoriais. Mesmo que não seja sempre necessariamente assim, eles frequentemente funcionam por meio de referências a características corporais e, portanto, por meio de referências a supostas certezas biológicas. É por isso que atribuições de diferença de cunho racista ou sexista são geralmente atribuições de diferenças naturalizadas que exigem validade atemporal ou pelo menos por longos períodos de tempo. Nesse sentido também as formas racistas e sexistas de poder são diferentes daquelas que operam vinculadas a relações de classe ou de produção (Kerner, 2012, p. 36).

Aliás, um dos pontos que precisa ser evidenciado é a quase ausência de referência à raça nos episódios como um todo, um fator que ganha significação considerando-se a própria origem da interseccionalidade como campo do saber. Ainda que seja possível identificar traços negros nas fotos das capas dos protagonistas de cada episódio, é no discurso que essa falta se torna perceptível. Há uma ausência sobre o tema tanto quando é feita uma definição do público-alvo dos serviços, como quando os personagens falam de si.

No cenário apresentado, algumas questões podem ser colocadas: a especificidade do meio podcast, em tese, também poderia “enfraquecer” o marcador da raça pela falta de referências visuais nesse objeto de estudo. Já a ênfase da Rádio Batente no universo do trabalho poderia, de antemão, supervalorizar a haste classe” desde a sua concepção. Diante dos pontos levantados, fica a pergunta: a análise interseccional é válida quando a haste da raça não é intensamente iluminada? Essa é uma questão abordada em referência bibliográfica recente.

Colocar as marginalizações no centro do debate é incluir, consequentemente, todas as pessoas, entendendo que a abertura da porta para sujeitos em situação de vulnerabilidade facilita a entrada tanto para estes indivíduos quanto para aqueles que não apresentam desvantagem alguma. Fica evidente, então, que os estudos interseccionais, mesmo vinculados à base da sua construção teórica, não precisam ou devem estar restritos a análises em gênero e raça, ao contrário, podem articular outras avenidas identitárias que direcionam os sujeitos para experiências complexas na vida social e política (Carrera et al., 2022, p. 16).

Ainda ao refletir sobre como o conceito da interseccionalidade pode alçar voos distantes do ponto de partida conceitual, ressalta-se:

O processo de explorar e examinar experiências complexas, portanto, é entender que análises da vida social devem resistir à generalização simplificada, embora sua completa negação não seja o caminho ideal, sobretudo quando se pensa em ações políticas estratégicas. Entende-se que interseccionalidade surge como uma abordagem “intracategórica” (MCCALL, 2005, p. 1773), ao basear seu argumento nos desvios das categorias de gênero e raça, mas termina sendo um modelo teórico “intercategórico”, uma vez que adota categorias em um primeiro momento, justamente para documentar suas desigualdades e perceber as existências que se entrecruzam, mas não se restringe a nenhuma categoria particular (Carrera et al., 2022, p.16)

 

Nesse escopo de indagações, também é oportuno questionar se a expectativa de uma correlação direta entre vulnerabilidade econômica e a raça negra, por exemplo, não seria um preconceito do pesquisador ou, ainda, um desdobramento natural diante do fato de o Brasil ser um país historicamente alicerçado em relações escravocratas, sendo que esse legado repercute nas estatísticas sociodemográficas. Nesse ponto, mais do que respostas, é importante pensar que cada objeto não só interroga os limites da própria metodologia, mas também implica no questionamento e possível reconhecimento de qualquer viés que esteja atrelado ao pesquisador.

No terceiro episódio (A saúde bate na porta), as hastes classe e gênero são iluminadas. Ao abordar a haste classe, fica evidente como as dificuldades financeiras impactam o cuidado com a saúde, extrapolando uma percepção de que essa seria uma responsabilidade exclusivamente relacionada às escolhas e hábitos do sujeito. Ainda que o episódio mostre situações individuais, é oportuno colocar em pauta o fato de que, mesmo que existam fatores comportamentais em jogo no cuidado em saúde, é preciso ter condições dignas de vida para fazer escolhas saudáveis.

As desigualdades no estado de saúde estão de modo geral fortemente atreladas à organização social e tendem a refletir o grau de inequidade existente em cada sociedade. O acesso e a utilização dos serviços refletem também essas diferenças, mas podem assumir feições diversas, dependendo da forma de organização dos sistemas de saúde. Há sistemas que potencializam as desigualdades existentes na organização social e outros que procuram compensar, pelo menos em parte, os resultados danosos da organização social sobre os grupos socialmente mais vulneráveis (Barata, 2020, p. 20).

Também é oportuno ressaltar que a ausência do Estado como garantidor de serviços fundamentais reforça a importância da solidariedade na comunidade, criando uma rede informal de cuidado, por exemplo, diante do impasse entre precisar trabalhar e, concomitantemente, permanecer em casa para cuidar de um parente que precisa de tutela ou perdeu a autonomia para a realização de atividades cotidianas e de autocuidado (crianças, idosos acamados, entre outras condições marcadas pela vulnerabilidade).

Nesse episódio, a haste do gênero também é iluminada quando a jornalista chama a atenção do ouvinte para o fato de que existe apenas um homem, o agente de saúde, na equipe da Unidade Básica de Saúde. Ao longo do episódio, a comunicadora também nota que, nas visitas domiciliares, são sempre as mulheres que recebem os profissionais. Nesse contexto, pergunta-se: seria o cuidar um verbo relacionado ao feminino? Ao analisar o trabalho doméstico remunerado e o trabalho na área da saúde, uma das referências aponta:

Ambas as dimensões do trabalho de cuidado (doméstico e externo ao trabalho doméstico) têm duas características em comum: são atividades exercidas em sua ampla maioria por mulheres, na mesma medida em que são atividades geralmente desvalorizadas em um cotidiano de desigualdades estruturais e precariedades múltiplas, que se acentuam a depender de outros indicadores interseccionais de classe e raça. Em que pese a dinâmica de alterações sociais profundas e também nos modos de produção capitalista, há um continuísmo em naturalizar a responsabilidade à mulher no trabalho de cuidar, por primazia ou exclusividade (Borges, 2020, p. 300).

No quarto episódio (A cobradora simpatia), as hastes de gênero, classe e geolocalização são iluminadas. Ao abordar o primeiro marcador, é nítido como o machismo está entranhado nas relações sociais, inclusive no ambiente de trabalho: a cobradora de ônibus ilustra como o problema marca a relação com os colegas atuantes na área de transportes – um contexto majoritariamente masculino – e também a interação com os passageiros. No primeiro caso, a profissional relata que, no passado, havia uma crença generalizada de que as trabalhadoras do setor estariam ali por serem amantes de alguém importante na hierarquia da empresa ou por terem feito o “teste do sofá”.

Aponta, ainda, que já ouviu motoristas homens de outras linhas perguntarem ao condutor da linha em que trabalha se ela já estaria no “nome dele”, numa alusão à posse. Além disso, a personagem cita passageiros que não se aproximam muito por acharem que ela “seria do motorista”. Em uma reivindicação coletiva das trabalhadoras do setor para que terminassem seus turnos até às 22h e, assim, pudessem retornar para casa em um horário seguro, chegou a ouvir dos colegas: “Ah, mas vocês não lutam pela igualdade de direitos? Cadê a igualdade de gênero?”.

Nesse mesmo episódio, as hastes classe e geolocalização podem ser analisadas conjuntamente. O ouvinte acompanha um dia na linha de ônibus que faz o trajeto entre o Jardim Ângela e o Terminal Santo Amaro, na zona sul paulistana. Embora não haja uma explicação sobre o perfil sociodemográfico do bairro, fica evidente, pelo tempo do trajeto, que o ônibus parte de uma região periférica para uma região mais central de São Paulo. Em uma das viagens, em que o ônibus é ocupado, majoritariamente, por mulheres, a cobradora salienta que boa parte delas são empregadas domésticas e que, em muitos casos, são as principais mantenedoras da família. Mais uma vez, pode-se pensar como a ocupação da cidade segue uma lógica excludente e como o ambiente doméstico está associado à mulher, no âmbito pessoal e profissional.

O quinto episódio (Os corres de um bombeiro) é o mais desafiador a ser analisado. De imediato, o que determina as ocorrências atendidas é a localização geográfica, já que existe um perímetro a ser coberto pela base em que o profissional está alocado. Há, ainda, uma informação sobre tentativas de suicídio na região central paulistana em decorrência da presença de viadutos.

Pode-se fazer, também, uma inferência sobre classe quando o personagem protagonista salienta que o carro dos bombeiros pode ficar preso na emergência de um hospital público porque a instituição não tem macas próprias para a transferência imediata do paciente. Será que isso aconteceria em um hospital particular?  Difícil de imaginar, mas o conteúdo do episódio em si não permite fazer afirmações taxativas, considerando-se que esse serviço é uma responsabilidade exclusiva do poder público.

3.2.2.Segunda etapa da metodologia da roleta interseccional

Após a identificação e a descrição das hastes iluminadas, parte-se para a discussão dos três eixos já apresentados:

3.2.2.1. Formação interseccional-discursiva

A formação interseccional-discursiva coloca em evidência a conjuntura sociocultural e histórica do objeto em análise (Carrera, 2021b). No podcast Rádio Batente, a própria escolha dos serviços e dos protagonistas dos episódios – trabalhadores da rede pública – aponta para a preocupação de colocar em pauta experiências bem-sucedidas de assistência e cuidado a grupos sociais usualmente marginalizados. Nesse contexto, o projeto tem um caráter de denúncia e, concomitantemente, mostra-se como uma ferramenta de resistência e empoderamento.

A denúncia, entretanto, em nada tem um caráter panfletário. Do ponto de vista editorial, a seleção criteriosa dos serviços permitiu dar voz a personagens que refletem continuamente sobre a atuação profissional e que reconhecem a diversidade como uma condição a ser abraçada. Profissionais que são comprometidos em desenvolver a autonomia e a participação dos públicos atendidos nos processos decisórios que impactam a vida desses sujeitos.

Denúncia, também, por desnudar como a falta de políticas públicas ou de investimentos fragiliza áreas prioritárias, o que ficou ainda mais evidente pelo contraponto feito entre o cotidiano antes e durante a pandemia da COVID-19, colocando em primeiro plano tanto o impacto da crise sanitária nas populações atendidas como na configuração do trabalho de quem atuou na linha de frente. Nesse ponto, é fundamental evidenciar a pandemia como um evento disparador universal, circunscrito no tempo e no espaço, pois permite assinalar as assimetrias sociais.

A crise da Covid-19 escancara a realidade de um sistema econômico, que, na prática, é fundado por um modelo extrativista e predatório dos recursos do planeta e que produz e sustenta desigualdades em múltiplas dimensões e concentração de riquezas em escalas abissais. Mas não apenas isso, é um sistema que alimenta e retroalimenta desigualdades estruturais em relações assimétricas de poder naturalizadas e, portanto, invisibilizadas pela sociedade (Borges, 2020, p. 267).

É preciso pontuar, ainda, uma dualidade ou uma contradição na estruturação narrativa singularizada e quase heróica adotada nos episódios.  Nela, há um herói e/ou uma heroína (os profissionais que são protagonistas em cada episódio), que centralizam valores positivos norteadores das jornadas de trabalho. Uma vivência que pode ser análoga à própria Jornada do Herói, proposta por Joseph Campbell para entendimento das narrativas, a partir da mitologia e dos arquétipos junguianos.

Em princípio, apesar da variedade infinita, a história de um herói é sempre uma jornada. Um herói abandona seu ambiente confortável e comum para se aventurar em um mundo desafiador e desconhecido. Pode ser uma jornada ao exterior, a um lugar de verdade (…). No entanto, existem muitas histórias que conduzem o herói a uma jornada interior(…). Em qualquer boa história, o herói cresce e se transforma, empreendendo uma jornada de um modo de ser para outro: do desespero à esperança, da fraqueza à força, da tolice à sabedoria, do amor ao ódio e vice-versa. São essas jornadas emocionais que prendem o público (Vogler, 2015, p. 45).

Em contrapartida a essa jornada solitária e mítica, cada profissional dá voz a outros tantos servidores públicos anônimos que, numa atuação coletiva, têm vossas práticas bem alicerçadas na Constituição brasileira de 1988 e nas diretrizes que sustentam o SUAS (Sistema Único de Assistência Social) e o SUS (Sistema Único de Saúde), por exemplo. De certa forma, esses dois sistemas são os verdadeiros protagonistas do segundo e do terceiro episódios, respectivamente, pois, a partir das trajetórias singulares dos profissionais, é possível conhecer os serviços e compreender os alicerces teóricos e práticos que os sustentam a partir do que a lei brasileira estabelece.

Nesse contexto, há de se considerar o aspecto multifacetado do conceito de resistência que, por um lado, significa estabelecer uma rede de sociabilidade mais adequada no microcosmo. E, por outro, implica em compreender um panorama amplificado que coloca em voga a disputa entre o modelo neoliberal, que encolhe o papel governamental na garantia de direitos, e o modelo de Bem-Estar Social, que assegura o protagonismo governamental nessa seara.

Como exemplos de iniciativa em pequena escala, pode-se destacar um trecho no primeiro episódio (O professor artista). Nele, o docente comenta a escolha da escola em adotar a música como “sinal” que avisa sobre o começo e o final do dia letivo e/ou marca os intervalos entre as aulas, em detrimento de um apito estridente, usado usualmente. Pontua, também, a restrição que ele tem em formar filas como maneira de organizar o deslocamento das crianças pela instituição:

(Versão instrumental de música dos Rolling Stones toca ao fundo da sonora, como “sinal”). 

Aqui foi uma coisa muito bacana que desde que eu cheguei que já não existia, aquele sinal de fábrica, sabe? Que já vai treinando os nossos alunos para essa realidade que é o chão da fábrica. Então aqui nós usamos música na hora do sinal e eu acho muito mais agradável. Eu sou um professor que eu não faço fila, por não acreditar na fila, e não dizer que ela não seja necessária, mas aqui eu faço um acordo com os alunos, eu falo “o fato de não ter fila não quer dizer que você vai sair gritando, pulando, se jogando no chão (…) até essa desconstrução é difícil (…) porque eles já estão condicionados (…) (Sonora Professor de artes – protagonista do episódio 01: 18’18”-19’).

Ao se pensar no microcosmo, também é oportuno citar o segundo episódio (O trabalho da assistente social com moradores de rua). Pode-se acompanhar uma instituição que apresenta uma gestão horizontalizada e participativa, pautada pelo diálogo e alicerçada em três pilares: a educação popular, de Paulo Freire; a Comunicação Não-Violenta, proposta por Marshel Rosemberg; e o conceito de justiça restaurativa, em detrimento da justiça retributiva, que tem um viés punitivo, como detalhado no próprio episódio do podcast (Casteli, T.; Suzuki, N., 2020).

Esse arcabouço teórico foi materializado, por exemplo, na realização semanal de uma assembleia, ocasião em que os moradores e os profissionais podem decidir coletivamente as regras de convívio na casa, o que inclui discutir sobre o horário-limite de chegada na casa, o horário de funcionamento de TV, a escolha do cardápio servido aos moradores e as condições para receber visitas vindas de fora. Vivências que, outrora, aconteciam de forma impositiva por parte da direção do serviço, sendo que os próprios profissionais teriam repensado a forma de estabelecer regras.

Tá, mas aí, o que coloca no lugar?” O que coloca no lugar é o diálogo. E se o problema era chegar tarde da noite, qual é esse problema? Então, vamos dialogar sobre isso (…). Aí, a gente começou a perceber que o foco não era a gente querer que ela [pessoa] cumprisse regras, a gente queria que ela pudesse olhar para o outro e olhar para si. E que o abrigo pudesse propiciar isso. E aí, quando a gente começou a substituir as regras pelo diálogo, a gente começou a perceber que a própria casa passava a ser transformadora (Sonora Psicólogo, personagem do episódio 02: 17’48”- 18’23”)

Como contraponto, para um questionamento amplo dos modelos socioeconômicos, o episódio relacionado à saúde faz um registro apropriado sobre a presença/ausência do estado durante a pandemia da COVID-19, tendo como cenário a favela paulistana de Heliópolis. Nesse contexto, ficou evidente que a orientação de “ficar em casa” e manter o maior distanciamento possível entre as pessoas era incompatível com a necessidade de trabalhar, numa realidade marcada pela grande circulação de pessoas e pela abertura do comércio informal diante da falta de fiscalização.

Também merece destaque a parceria entre os equipamentos de saúde e as ONGs para a realização do trabalho de conscientização, apontando, concomitantemente, para agilidade da sociedade civil em se articular para o enfrentamento da situação e para a morosidade do Estado em viabilizar algum respaldo socioeconômico em grande escala diante de um contexto crítico.

3.2.2.2. Ethos interseccional

Além das questões de autoria, pontuadas anteriormente, uma possibilidade para conhecer a imagem de si e do ethos discursivo pertinente ao podcast, seria compreender que os protagonistas dos episódios, de certa forma, são porta-vozes das respectivas profissões e, mais especificamente, dos serviços em que estão inseridos.

Nos episódios, os jornalistas buscam compreender a função social atrelada ao cargo dos protagonistas. Em alguns momentos, essa resposta fica restrita à descrição de tarefas relacionadas aos cargos ocupados. Em outros, há uma reflexão por parte do profissional e/ou do usuário do serviço sobre o papel daquele trabalhador e de como ele impacta a comunidade que atende. Isso implica em reconhecer não só as experiências individuais, como, também, vislumbrar as representações sociais inscritas no imaginário coletivo.

Os estudos sobre a representação social têm sido crescentes desde sua publicação, na tentativa de explicar e compreender fenômenos sociais, por meio de situações comuns do cotidiano, que quando passados de uns para outros se tornam verdades. São conhecimentos naturais dos indivíduos que são transmitidos de geração para geração, são opiniões e ideias de pessoas de um grupo sobre determinado fenômeno ou acontecimento. A representação é um conhecimento real, formado pelo senso comum entre um grupo de indivíduos, o conhecimento se torna uma representação a partir do momento que se torna uma verdade para todos os membros que compõem o grupo (Jodelet, 2001) (Sousa & Souza, 2021, p.1).

A partir desse preâmbulo, alguns trechos dos episódios podem ser destacados por colocarem em pauta a percepção dos personagens sobre as suas profissões.

A outra coisa que as aulas de artes ajuda (sic) muito. (….) aqui, ele tem que aprender que se ele misturar azul com amarelo vai dar uma terceira cor que pode ser o verde, mas se ele colocar uma outra… então, é a descoberta, é a autonomia, a coordenação fina, é saber que não está sozinho no mundo. Então, é uma aula que eu acho extremamente necessária e qualquer pessoa que queira comprometer ou tirar esse tipo de linguagem de uma criança, pode-se considerar crime, enfim. (Sonora Professor de artes, protagonista do episódio 01: 17’04” – 17’48”).

Mas a função do assistente social aqui no abrigo, ela é uma função muito importante porque auxilia os moradores a conseguirem acessar o que é de direito, que muitas vezes é desconhecido por eles né (…). Então, às vezes, a pessoa tem uma doença mental, ela tá sem retaguarda familiar, ela não tem retaguarda financeira de ninguém. Quando ela vem para o abrigo, assim, o assistente social tem essa função de saber antes quais são os direitos que a pessoa tem e, no caso, inserir. Às vezes, eu escuto ‘Ah, a assistente social tem que ser boazinha, tem que dar cesta básica’, E, na verdade, é assim, o trabalho do assistente social, ele tá muito pautado nos direitos mesmo né que a pessoa tem e que, às vezes, ela desconhece, não acessa a informação. Então, muita gente, às vezes, não sabe qual o caminho que precisa percorrer para ter acesso ao direito. E o assistente social faz essa ponte e, também, acho que problematiza a condição que ele tá, auxilia ele a entender a condição social que ele tá porque aí muda a visão de mundo né” (Sonora Assistente social, protagonista do episódio 02: 20’19”-21’-19”).

3.2.2.3.Negociações interseccionais

Ao colocar a imersão como ponto de partida para a inclusão do ouvinte na experiência narrada, é oportuno ressaltar que os episódios lançam mão de sonoras externas de maneira maciça e não só durante as entrevistas pontuais, mas também mantendo a captação contínua nos deslocamentos, nas conversas entre membros da equipe técnica, nas interrupções feitas por curiosos e, ainda, com o intuito de captar o som ambiente, um conjunto de situações que imprimiu uma certa  familiaridade às situações em destaque.

Vale pontuar, ainda, que a postura dos jornalistas reforça a percepção de que são testemunhas, emprestando os seus sentidos ao ouvinte que não está de corpo presente. Adota-se, assim, uma certa ingenuidade durante a cobertura, o que os libera da condição de sujeitos do suposto saber e os deixa livres para indagar cada detalhe, evidenciando que não pertencem ao universo mostrado, aproximando-os dos ouvintes que também estão adentrando num universo desconhecido. Há, assim, uma similaridade com outros podcasts narrativos, que, em muitos momentos, deslocam o repórter do centro da narrativa.

Esse reposicionamento inverte os do repórter, do entrevistado e do ouvinte, intercalando os seus papéis, e tornando-os, ao mesmo tempo, narradores e protagonistas das histórias contadas. Por meio delas, podemos presentificar o passado, acessar o presente e ousar novos voos na criação de narrativas radiofônicas que permitem deslocar o senso comum e mobilizar o sentido de comunidade que, afinal, é o que move nosso desejo de, incansavelmente, contar e recontar histórias (Vicente & Soares, 2020, p. 18).

Outra questão que aproxima a vivência dos jornalistas da experiência do ouvinte é a forma como se colocam: usam a primeira pessoa do singular, dividem as suas percepções sobre as situações que vivenciam, compartilham experiências anteriores em contextos similares aos mostrados no podcast, além de exporem as suas vidas particulares ao perceberem que essa escolha poderia enriquecer o enredo. Embora a proposta dos podcasts narrativos implique em uma jornada pouco afeita à improvisação, considerando-se desde o trabalho de pesquisa na pré-produção até a edição, há, nessa primeira temporada do podcast, espaço para o ineditismo dos encontros e para a surpresa diante dos imprevistos.

Nesse contexto, existe, também, um vislumbre de como as negociações para as realizações das captações aconteceram, um material que poderia ser excluído do produto que chega ao ouvinte. Em uma analogia, seria como se o ouvinte pudesse espiar por detrás da coxia enquanto o elenco se prepara para entrar em um palco no teatro. Isso acontece, por exemplo, no segundo episódio, que relata o cotidiano dos antigos moradores de rua: a informação de que eles assinaram um termo de consentimento e que a participação no podcast passou por votação na assembleia realizada no abrigo foram verbalizadas no programa. Nesse ponto, o fato de, no geral, somente o produto final ser acessível, sem que se conheça os meandros da produção, não permite que se faça apontamentos mais incisivos sobre esse tópico.

Considerações finais

A análise empírica empreendida a partir da roleta interseccional mostrou-se adequada, considerando que a metodologia apresentou as ferramentas necessárias para a investigação do objeto comunicacional escolhido, servindo como uma bússola que direciona sem, entretanto, impedir o livre navegar do pesquisador.

É possível assinalar, também, que as possíveis limitações – disparidades entre o Instagram e o podcast como mídias e o fato de os eixos de análise serem, majoritariamente, pautados no aspecto bidirecional da interação – tensionam os limites dessa análise, mas paradoxalmente, servem como força motriz para os questionamentos em relação ao aspecto interacional em um podcast narrativo como este em pauta.

Vale pontuar, ainda, que a própria interseccionalidade veio ao encontro da proposta desse podcast, que denuncia vulnerabilidades sociais, mas também empodera e resiste ao dar voz a profissionais e usuários de serviços que seguem no trabalho cotidiano e anônimo de fomentar a autonomia em contextos sociais onde o silenciamento costuma imperar.

Por fim, é necessário que novas investigações empíricas aconteçam no intuito de dialogar com o exercício realizado nesse texto, uma iniciativa que ganhou fôlego justamente quando Carrera se propôs a ultrapassar a descrição da diferença, instrumentalizando a investigação empírica por meio de uma contribuição original e alicerçada na escrita de tantas outras mulheres que adotaram a interseccionalidade, sedimentando esse campo de investigação teórico e da práxis.

 

Financiamento

Esta pesquisa integra o projeto FAPESP 2013/07699–0.

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CASTELI, T., & SUZUKI, N. (Anfitriões). (2020, julho). Jornadas: o trabalho da assistente social com moradores de rua (nº2) [Podcast áudio]. In Rádio Batente. Rádio Novelo. https://open.spotify.com/episode/4PgA9RcS0lYHUerTnXwemO?si=I8n1CaCmQhGFGvMJBJNcOg

CASTELI, T., & SUZUKI, N. (Anfitriões). (2020, julho). Jornadas: a saúde bate na porta (nº3) [Podcast áudio]. In Rádio Batente. Rádio Novelo. https://open.spotify.com/episode/2bzclu8v5U7B5AdyMYIxrP?si=zQUUhE-6SJSI-mkR-OKSXg

CASTELI, T., & SUZUKI, N. (Anfitriões). (2020, julho). Jornadas: a cobradora simpatia (nº4) [Podcast áudio]. In Rádio Batente. Rádio Novelo.

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CASTELI, T., & SUZUKI, N. (Anfitriões). (2020, julho). Jornadas: os corres de um bombeiro (nº5) [Podcast áudio]. In Rádio Batente. Rádio Novelo. https://open.spotify.com/episode/7ikIeu7LTQJ3cCqp3PMUyg?si=EPwAW_znT76eBvmLs7Pd7w

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Carolina Carvalho sallescarolina@hotmail.com

Psicóloga graduada pela UNIP (2022), especialista em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais pelo SENAC (2015) e jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero (2001) ). Na área de comunicação, tenho experiência na criação de campanhas publicitárias institucionais e de utilidade pública no segmento governamental, atendendo Prefeituras, Câmaras e autarquias, além de ter sido colaboradora do Núcleo de Projetos Especiais da Editora Abril. Fui premiada 17 vezes pela Associação dos Profissionais de Publicidade de Ribeirão Preto (APP-RP) nos três festivais de criatividade que abrangem a criação publicitária do interior do país (FestGraf, FestDigital e FestVídeo) desde 2016. Na área da saúde, atendi em psicodiagnóstico interventivo e fiz estágios em psicoterapia breve e em plantão psicológico. Desenvolvi, também, uma pesquisa de iniciação científica voluntária abordando as mudanças no setting analítico em decorrência do isolamento vivenciado durante a pandemia da Covid-19. Minhas áreas de interesse são Psicologia (Psicanálise, em especial) e Neurociências.

João Alexandre Peschanski japeschanski@casperlibero.edu.br

Coordenador executivo do Wiki Movimento Brasil. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2004), parte da qual realizada em um programa sanduíche na Harvard University (Graduate School of Arts and Sciences), e graduação em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2001). É mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (2007) e doutor em Sociologia pela University of Wisconsin-Madison (EUA). Integra o Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão Científica em Neuromatemática (NeuroMat), na Universidade de São Paulo. É consultor de política e economia brasileira no Coleman Research Group, dos Estados Unidos.