Escrevendo a sua própria existência

danah boyd ↘ Tradução
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tradução por
Francisco Brito Cruz
e Mariana G. Valente

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N. 1 ⁄ V. 1 ⁄ FEVEREIRO DE 2020 ↘ Tradução

Escrevendo a sua própria existência

Francisco Brito Cruz & Mariana G. Valente

Apresentação dos tradutores

Esta é a tradução do Capítulo 4 da tese que a professora e pesquisadora danah boyd (sim, escreve-se no minúsculo) defendeu na Universidade da Califórnia, Berkeley, em 2008, chamada Taken Out of Context – American teen sociality in networked publics. Por que traduzir um texto “tão antigo”, dada a velocidade com que as aplicações e usos da internet se desenvolvem?

Nos últimos anos, ganhou bastante tração no Brasil a discussão acerca dos “filtros-bolha”, ou o fenômeno de sermos cercados, na internet, por informações que dizem respeito a interesses e opiniões que já temos e manifestamos, por causa de como aprendem os algoritmos de seleção de conteúdo com o nosso comportamento. Há pesquisas que indicam que isso é real e produz radicalização, e há outras que apontam que, ao contrário, na internet, as pessoas têm acesso a mais diversidade de conteúdos e opiniões do que teriam se não estivessem online. De uma forma ou de outra, parece bastante autoevidente que, pelas redes sociais, é comum eu ficar sabendo das posições políticas do meu vizinho ou colega de natação, o que não necessariamente ocorreria nos nossos espaços de convívio social.

Diante desse debate, pareceu-nos importante retomar a discussão de danah boyd sobre um fenômeno pouco debatido: o colapso contextual, inicialmente introduzido por ela em sua dissertação de mestrado, defendida em 2006. Ao examinar minuciosamente a forma pela qual adolescentes estadunidenses construíam perfis em um dos primeiros sites de rede social massificados, o MySpace, boyd ilustra com exemplos como a internet “derruba os limites” que permitem a distinção de contextos em práticas de formação e apresentação de identidade, borrando os papéis sociais que as pessoas ocupam em diferentes contextos. O colapso contextual é o apagamento do conjunto de circunstâncias que tendem a acompanhar uma comunicação propagada, neste caso, por meio digital. E isso é a fonte de muitos conflitos.

O colapso contextual está presente em diversas discussões contemporâneas, como na discussão sobre notícias falsas, por exemplo, à medida que compreender uma informação jornalística passa por saber situar contextos. Ele está também na intrincada discussão sobre os limites da liberdade de expressão na internet, pois entender a piada como engraçada ou ofensiva também depende da construção (ou desconstrução) de contextos. Ainda, o apagamento de contextos alimenta a instrumentalização de fragmentos do discurso político em favor da polarização.

No capítulo que traduzimos, a autora ainda revela como esse fenômeno toca não só questões envolvendo liberdade de expressão, mas também privacidade e proteção de dados. Os adolescentes estudados começavam a perceber como as configurações de privacidade, os métodos de ocultação de identidade e pseudonimato e práticas de controle de quais eram seus públicos desejados auxiliavam na árdua tarefa de que eles não fossem mal interpretados ou observados por figuras de autoridade (ou que representavam risco).

Parece-nos que compreender os potenciais problemas que emergem de contextos nos quais há colapso contextual é uma tarefa imperativa para o campo de estudos sobre internet e sociedade. Abordagens como essa enraízam a compreensão de como as redes sociais e a internet interagem com a sociedade e a política, fazendo frente a lugares comuns tecnocêntricos, daqueles que endeusam a tecnologia àqueles que a retratam como motor de uma tragédia global incontrolável. Produzimos uma tradução para o português1, em acesso aberto, na expectativa de que os argumentos de boyd contribuam para o debate brasileiro no presente.

Agradecemos à danah boyd, por autorizar a tradução deste capítulo; ao colega Márcio Moretto Ribeiro, que foi quem nos provocou com a lembrança da tese do colapso contextual – e ao observar sua importância no presente contexto; e a Sinuhe Cruz, pela revisão cuidadosa.

Escrevendo a sua própria existência

eu sou allie. eu não sou uma pessoa muito complexa. eu gosto de música. eu gosto de ler. adoro conhecer novas pessoas. ainda estou tentando descobrir muitas coisas. sobre Deus. sobre a vida. sobre o meu futuro. sobre pessoas. não gosto de quem sou, mas estou trabalhando para ser alguém melhor. estou realmente tentando seguir Jesus com tudo de mim. às vezes eu preciso de ajuda” – Allie, uma menina branca de 17 anos de Indiana, em seu “Sobre Mim” no MySpace2

 

Escrever uma declaração biográfica pode ser desafiador. As maneiras de descrever a si mesmo são incontáveis e a escolha de qual caminho é apropriado depende totalmente do contexto. Mesmo com o contexto em mente, retratar-se com sucesso não é simples, seja por escrito ou ao vivo. Em um esforço para causar uma boa impressão, as pessoas tendem a olhar em volta, ver como os outros estão agindo nesse contexto e escolher sua performance de acordo com isso. Dependendo de como são recebidas, as pessoas alteram seu comportamento para aumentar a probabilidade de serem percebidas como pretendem. Essa é a essência do que Erving Goffman (1959) chama de “gerenciamento de impressões”, incluindo os processos envolvidos na “apresentação do eu”.

Ambientes mediados, como públicos em rede, formalizam e alteram os processos identitários de autoapresentação e gerenciamento de impressões. Adolescentes precisam formalmente tornar sua presença conhecida por meio da criação explícita de perfis, e os atos iterativos de gerenciamento de impressões são complicados pelo limitado feedback social nos ambientes online. O que é ainda mais desafiador é que adolescentes precisam fazê-lo em um ambiente cujo contexto não é claro e muda constantemente.

A autodescrição do “About me” de Allie em seu perfil do MySpace revela sua tentativa de se localizar textualmente. Além dessa descrição, Allie oferece um autorretrato sorridente, uma lista eclética de interesses, uma variedade de gostos culturais, informações demográficas simples, postagens reflexivas no blog e uma música melancólica para enriquecer sua autorrepresentação digital. Sua lista de Amigos3 e os comentários que eles postam fornecem uma visão de seu mundo social, impactando sua identidade. Enquanto o perfil de Allie no MySpace é cheio de informações sobre quem ela é, a própria criação desse perfil é uma estranheza do ponto de vista social, no sentido de que a geração de Allie é a primeira a ter que se articular publicamente, a ter que escrever-se como ser, como uma pré-condição à participação social.

Por mais rico que seja o perfil dela, é difícil situar Allie. Sua autodescrição revela alguma angústia, mas ela está radiante na fotografia. Sua autodescrição permaneceu a mesma por meses, o que dificultou que eu percebesse mudanças. A partir dos cinco posts que ela fez no blog no período de dois anos, eu pude constatar que ela esteve lutando para entender sua religião, mas não tenho ideia de quão presentes esses pensamentos estão em sua vida cotidiana, nem sei por que esse é o único tópico que ela parece postar sobre. Eu posso ver quem ela lista como “Amigos”, mas não tenho ideia do que ela acha sobre essas pessoas ou sobre aqueles com quem ela convive e que não estão no MySpace. O perfil dela é público, o que possibilita que eu o veja, mas tenho uma vaga ideia apenas de quem ela pretende que o visualize. Por tudo o que é revelado, há muito mais que não o é.

Todos os dias, em ambientes não mediados, as pessoas buscam gerenciar as impressões que causam nas interações sociais de uma forma ritualística. Esse gerenciamento de impressões exige que elas negociem, expressem e ajustem os sinais que explicitamente emitem e aqueles que implicitamente elas deixam transparecer. Em seu texto seminal, Goffman (1959) detalha as maneiras pelas quais as pessoas levam em consideração a situação social e o seu próprio papel nela no uso da linguagem corporal, da fala e de outras pessoas para transmitir uma impressão. O que a descrição de Goffman não prevê é a maneira como as situações mediadas podem alterar esse processo.

Muito do que as pessoas tomam por certo em situações não mediadas não pode ser levado em consideração em situações mediadas. No online, não há corpos no sentido corpóreo, o que oculta tanto as informações de identidade que tipicamente são gravadas no corpo quanto as informações de presença que tornam uma pessoa visível para outras pessoas. Para existir em contextos mediados, as pessoas devem envolver-se em atos explícitos, escrevendo-se. Em sites de redes sociais, isso significa criar um perfil e consubstanciar-se nos campos disponíveis como um ato de autoapresentação.

Embora a criação de uma identidade digital tangível seja relativamente simples, negociar a tecnologia para se envolver em atos de autoapresentação e gerenciamento de impressões é complexo e diferente de como esses atos se desenrolam em ambientes não mediados. Os processos de sinalização social são complicados pela tecnologia, o que altera como adolescentes podem obter acesso aos fundamentos do gerenciamento de impressões: contexto, retorno4 explícito e reações implícitas. A natureza persistente, pesquisável, alterável e de rede desses ambientes dificulta que adolescentes situem sua performance e, portanto, corre-se o risco de que elas sejam tiradas de contexto. Ao criar e negociar autoapresentações em espaços mediados, os adolescentes lutam para desenvolver técnicas para dar conta e adaptar-se a esses ambientes.

Este capítulo examina algumas das maneiras pelas quais adolescentes negociam suas autoapresentações e o gerenciamento de impressões em sites de redes sociais por meio da construção e manutenção de perfis. Ao analisar essas práticas, considero as maneiras pelas quais os adolescentes alteram suas práticas em torno do gerenciamento de identidades e de impressões para dar conta dos recursos técnicos dos sites de redes sociais. Meu objetivo é analisar como adolescentes incorporam sites de redes sociais em suas práticas de identidade e como eles trabalham com e contra a tecnologia para atender às suas necessidades.

1.Localizando Identidade

Os processos de autoapresentação e gerenciamento de impressões estão intrinsecamente ligados ao conceito de “identidade”, mas o termo “identidade” é, na melhor das hipóteses, escorregadio. Estudiosos vêm se debatendo há tempos sobre o significado desse termo, bem como suas raízes psicológicas, sociais, culturais e filosóficas (Buckingham 2007; Gay et al. 2001). Inúmeras teorias já foram apresentadas como sendo as abordagens definitivas de identidade, e essa continua sendo uma área de debates ricos.

Buscando situar o conceito de identidade, Buckingham (2007) mapeia cinco concepções de identidade que podem ser especificamente úteis para pensar sobre adolescentes e novas mídias. Primeiro, ele mira nas abordagens psicológicas ou comportamentais, para as quais identidade é um processo de desenvolvimento. A adolescência é marcada pelas maneiras pelas quais a identidade é formada, ou é ao menos posta em crise. Alguns dos principais estudiosos que seguem essa linha são G. Stanley Hall, Jean Piaget e Erik Erikson. Em segundo lugar, ele se volta para abordagens sociológicas nas quais a identidade é marcada pela relação de um indivíduo com a sociedade ou a cultura. Questões de “socialização” moldam esse discurso, notavelmente visto em estudos de subculturas e nas formas como desvio e delinquência são vistos como um desenvolvimento falho de identidade. Em terceiro lugar, Buckingham fornece uma noção de identidade social que é melhor entendida como “identificação”, na qual o sentido de si do indivíduo é marcado em relação ao grupo. Aqui, os estudos de Goffman sobre autoapresentação e gerenciamento de impressões desempenham um papel central. Em quarto lugar, ele trata do conceito de “políticas de identidade”, que emerge das disputas em torno de como identidades são construídas pelos detentores de poder. Esse campo de estudos desestabiliza a noção de quem tem realmente o poder de construir e controlar a identidade de um indivíduo, e está fortemente ligado a discursos de classe, raça, gênero e queer. Em quinto lugar, ele apresenta como a teoria social moderna aborda identidade como sendo o que Anthony Giddens (1991) chama de um “projeto autorreflexivo do eu”, ou aquilo a que Michel Foucault (1990) poderia se referir como “automonitoramento”.

Nos discursos técnico e jurídico, o termo “identidade” é frequentemente utilizado para fazer referência a uma pessoa ou um corpo particular (Solove, 2006). Sistemas técnicos frequentemente usam “identidade” para se referir ao identificador em uma base de dados ou ao conjunto de características demográficas que identificam alguém de forma única. Discussões jurídicas sobre “roubo de identidade” e privacidade também vão por esse caminho, usando identidade para referir-se à coleção de informações que referencia com sucesso uma pessoa específica.

Há já uma extensa produção acadêmica na interseção de tecnologia (incluindo a Internet) e identidade, vinda de perspectivas teóricas e metodológicas diversas, e endereçando diferentes aspectos de identidade (Balsamo, 1995; Castells, 2004; Clippinger, 2007; Donath, 1999; Reed, 2005). Uma parte dos primeiros trabalhos, como o “Manifesto Ciborgue”, de Donna Haraway (1991a), focou em como uma existência mediada como um ciborgue resultaria em novas manifestações de identidade, o que desafiaria sistemas de poder por complicar premissas corporificadas nas políticas de identidade. Mas, apesar de a hipótese de Haraway ter levantado enormes discussões e análises, esse futuro utópico não chegou. Mesmo quando tentam enganar, as pessoas reproduzem online as suas experiências corporificadas (Berman & Bruckman, 2001).

Uma das estudiosas mais proeminentes que examinam as questões envolvendo identidade e tecnologia é Sherry Turkle. Seus textos seminais The Second Self (1984) e Life on the Screen (1995) examinam a identidade a partir de uma perspectiva psicológica, concentrando-se principalmente na juventude. Turkle usa a psicanálise para considerar as maneiras pelas quais a tecnologia auxilia e complica o desenvolvimento da identidade. Ela também afirma que a fragmentação da identidade possibilitada pela tecnologia leva a crise de identidade a novos patamares (Turkle, 1995, pp. 255-269). Ao mostrar e examinar maneiras pelas quais jovens usam a tecnologia para trabalhar com a identidade, Turkle enquadra tais práticas como atos de simulação de identidade. Sua análise assume que a atividade online é separada das interações físicas. Além disso, seu trabalho se concentra em jovens e crianças que acabam de ser introduzidas na computação. Embora nossos interesses de pesquisa sejam semelhantes, discordo de muitas das conclusões de Turkle. Mesmo que sua análise seja válida para aqueles que estão tentando criar mundos “virtuais” separados por meio do engajamento online, a grande maioria dos adolescentes não é assim. Por esse motivo, acredito que a suposição de que adolescentes estão fragmentando suas identidades por meio do engajamento online é imprecisa. Dito isto, acredito que eles apresentam uma faceta de sua identidade com base no contexto social envolvido (boyd, 2002). Só não acredito que isso crie as crises de identidade sugeridas por Turkle.

Como muitos estudiosos antes de mim, eu tento juntar várias abordagens sobre identidade em minha própria abordagem. Embora me baseie em várias estruturas teóricas, a abordagem de Goffman sobre a performance de si mesmo e a negociação que envolve o gerenciamento de impressões estão no centro. As estruturas que eu propositalmente excluo são aquelas que presumem que a identidade é um conjunto de etapas pré-estabelecidas e delimitadas no tempo; não concordo com essa visão, embora ocasionalmente dialogue com estudiosos que a adotam. Vejo perfis como “corpos digitais”, pois identificam uma pessoa de forma única e são o fruto de uma produção de identidade autorreflexiva. Para mim, os perfis localizam e são a combinação de uma série de autodescrições controladas no contexto das conexões sociais. Quando os adolescentes lutam com as formas como são vistos e com como eles se distinguem na relação com aqueles a seu redor, vejo um trabalho identitário que combina as maneiras complexas pelas quais normas sociais, contexto e pessoas complicam atos de autoapresentação e gerenciamento de identidade. A meu ver, esse trabalho deles inaugura um conjunto inteiramente novo de políticas de identidade, e eu indico as formas pelas quais o colapso de contextos pode aumentar desafios daqueles cujas identidades são enquadradas por sistemas de poder.

2.Escrevendo a identidade para estar online

Analisando a cultura textual de uma comunidade online dos primórdios da Internet, Jenny Sundén (2003, p. 3) argumentou que um participante precisa se envolver de maneira ativa e consistente em “digitar a si mesmo em ser”5 para existir e ser visível online. A pesquisa de Sundén se concentrou em um precursor de jogos de role-playing gameonline para múltiplos jogadores, conhecidos como MUD (sigla para Multi-User Domain ou Multi-User Dungeon). Nesse ambiente social de jogo, os participantes precisavam produzir textualmente todos os aspectos do mundo imaginado, desde as mesas e cadeiras de uma sala até os acessórios de moda usados pelos personagens. Assim, eles digitavam a existência de espaços e explicitamente digitavam a existência de pessoas. Atributos como gênero eram atribuídos a uma pessoa por meio do uso de um comando como “@gender”.

Em ambientes não-mediados, é fácil que os corpos – e os papéis que eles desempenham – sejam tomados como dados. Ao localizar uma pessoa no espaço e no tempo, um corpo sinaliza presença de seu próprio ser. Um corpo é carregado com pistas sobre a identidade de uma pessoa; gênero, raça e idade são inscritos no corpo de maneiras que muitas vezes são difíceis de ocultar. Por meio da moda e de maneirismos, os corpos podem ser usados para transmitir uma ampla variedade de atitudes, emoções, afiliações e informações de identidade. Os corpos, no sentido tradicional, não existem online. Por padrão, a presença digital de uma pessoa é pouco mais do que um endereço IP. Enquanto os corpos no sentido material não estão presentes online, Sundén argumenta que o mundo digital não está livre das restrições dos corpos de materialidade, pois “o virtual não equivale automaticamente a ‘descorporificação’” (Sundén, 2003, p. 5). A forma como as pessoas se representam e interagem online é fundamentalmente influenciada por sua experiência corporificada.

Nos ambientes que Sundén estava pesquisando, era bastante comum que os participantes não tivessem interações face a face entre si. Do mesmo modo, as normas nos MUDs não exigiam que os participantes modelassem suas representações online para refletir com precisão seus corpos offline. Assim, os corpos dos personagens digitados pelos participantes nos MUDs podem não ser “reais” no sentido comumente entendido. Tais desvios não são considerados enganosos nos MUDs, pois esses ambientes incentivam brincar com identidades e os participantes não assumem que uma apresentação textual seja uma representação sincera do corpo não-mediado de quem digita.

Por outro lado, para os adolescentes americanos, os sites de redes sociais não são um espaço distinto que é construído online e deixado como uma esfera de imaginação virtual. As performances, conversas, interações e contexto dos sites de redes sociais estão intimamente ligados a outros aspectos da vida dos participantes. Adolescentes movem-se suavemente entre diferentes ambientes mediados e não-mediados, e sua participação em sites de redes sociais geralmente está intrinsecamente ligada a encontros não mediados. Adolescentes participam desses espaços ao lado de pessoas com quem interagem em ambientes não mediados. As performances que acontecem online não são atos isolados, desconectados das configurações corporificadas, mas atos conscientes que dependem de um contexto que abrange ambientes mediados e não mediados e envolve pessoas conhecidas em ambas as situações. Embora o jogo de identidade seja comum nos MUDs, os perfis que adolescentes criam nos sites de redes sociais geralmente estão bastante conectados à identidade corporificada neles em ambientes não mediados.

A continuidade entre sites de redes sociais e outros ambientes afeta as práticas de adolescentes em relação à criação de uma representação digital. Os corpos digitais que emergem dos perfis estão firmemente amarrados ao indivíduo por trás do perfil, por nenhuma razão senão porque servem como uma representação digital direta dessa pessoa para interações mediadas. Embora alguns sugiram que o trabalho identitário pela Internet tende a envolver a criação de personagens fictícios desconectados da realidade incorporada (Turkle 1995), essa não foi uma prática comum que testemunhei. Alguns adolescentes optam por representar um eu idealizado ou apresentar uma faceta de sua identidade que eles normalmente não mostram em espaços públicos, mas poucos geram autorrepresentações completamente desconectadas de suas experiências cotidianas. Mais frequentemente, eles estão simplesmente procurando se representar da maneira mais positiva possível.

O processo de digitar online o seu ser força os adolescentes a trabalhar com a identidade de novas maneiras. Adolescentes precisam descobrir como se imaginam e como querem ser vistos e, em seguida, devem usar ferramentas para expressar isso formalmente, por vezes sem os mecanismos de retorno e avaliação6 e o contexto que tornam o gerenciamento de impressões fluido. Eles precisam lutar contra serem mal interpretados e terem sua representação controlada pelas pessoas em volta deles e pela própria tecnologia. Porém, a maneira como eles gerenciam isso através da construção e manutenção de perfis ajuda a compreender as interseções entre identidade e tecnologia e as maneiras pelas quais os adolescentes aprendem a lidar com a identidade em ambientes totalmente novos.

3.A arte da criação e gerenciamento de perfis

O simples ato de criar um perfil em uma rede social exige alguma autorreflexão, ao menos para decidir conscientemente o que preencher ou ignorar nas questões e formulários. Conforme documentado em relação a muitos gêneros de mídia social (Brake, 2008; Ellison et al., 2006; Hodkinson & Lincoln, 2008; Reed, 2005), construir e atualizar um “corpo digital” de forma criativa exige que os participantes pensem em como desejam se representar. Criar autorrepresentações digitais tornou-se um ato corriqueiro para muitos adolescentes. Da escolha de um “nome de tela” para se representar em um aplicativo de mensagens instantâneas7 à atualização de um blog e manutenção de um perfil de site de rede social, os adolescentes que eu encontrei frequentemente enfrentam pressão para ser espirituosos, divertidos, criativos ou interessantes quando estão se dedicando à escrita de sua existência online.

A pressão que adolescentes enfrentam na autoapresentação digital não é totalmente diferente daquela que envolve moda e imagem em contextos não mediados. A maneira pela qual adolescentes individuais se adornam – online ou offline – sinaliza informações valiosas sobre seu senso de si e sua identidade social (Crane, 2000; Davis, 1992). Os adolescentes consomem a moda como uma forma direta de autoexpressão (Piacentini & Mailer, 2004) e buscam símbolos da moda que lhes permitam simultaneamente se encaixar e se destacar entre seus pares (Milner, 2004).  Usando texto, imagens e outras mídias, bem como design, adolescentes criam perfis que sinalizam informações sobre suas identidades. As autorrepresentações mediadas que eles criam revelam tanto o que eles têm em comum como a forma como eles se distinguem daqueles que os rodeiam (Liu, 2007). Criar um perfil é um ato de gerenciamento de impressões, o que requer que os adolescentes tenham em mente quem pode ver seus perfis e como eles podem ser interpretados. Assim, o desejo de serem vistos sob uma luz positiva ou precisa compele os adolescentes a elaborarem cuidadosamente seus perfis.

3.1.Técnicas para autoapresentação

Elaborar o perfil perfeito em um site de rede social é uma arte. Escolher fotos, selecionar músicas, criar layouts e determinar como preencher os vários campos de texto leva tempo porque os adolescentes conscientemente levam em consideração as impressões que seus perfis podem deixar. Dom, um garoto negro de 16 anos de Washington, disse-me que escolher cuidadosamente o conteúdo a ser colocado em seu perfil era importante para ele. Explicando o porquê, ele disse: “Eu escolhi o que queria no meu perfil porque achei que me representava bem”. Dom queria que seu perfil causasse uma boa impressão naqueles que o viam. Para Dom, isso significava criar um perfil centrado nos seus amigos e na sua música. Dom e seu primo vasculharam a web em busca de layouts até Dom encontrar um que ele gostasse. Ele então editou uma foto de si mesmo no Photoshop e usou-a como pano de fundo. Ele adicionou fotos de seus amigos e fez upload das músicas que ele compôs para que as pessoas pudessem ouvi-las quando visitassem sua página. Através da combinação de um layout descolado, fotos de si e de seus amigos e do streaming de sua música, Dom conseguiu criar uma autorrepresentação que, segundo ele, transmitia quem ele era e o que era importante para ele.

Os sites de redes sociais – e o MySpace, em particular – são estruturados de maneira a assumir que o observador não conhece a pessoa por trás do perfil, mesmo que a maioria dos adolescentes – incluindo Dom – esteja usando sites de redes sociais principalmente para interagir com amigos e colegas (Lenhart & Madden, 2007b). Ao elaborarem seus perfis, esses adolescentes não estão tentando se explicar para estranhos, e sim criando uma autorrepresentação digital que será bem recebida por pessoas que eles já conhecem. Isso direciona o que eles escolhem para colocar em seus perfis e motiva-os a adaptar recursos do MySpace que foram projetados para ajudar estranhos a se encontrarem.

Conforme discutido em maior detalhe no Apêndice 28, adolescentes inserem seis tipos de conteúdo para criar um perfil no MySpace: fotografias, informações demográficas, listas de gostos e interesses, texto em campos abertos para autodescrição, música e layouts de página. Além disso, como a lista de Amigos e os comentários desses Amigos são exibidos nos perfis, o conteúdo que seus Amigos escolhem inserir ajuda a moldar o perfil de um adolescente.

Seções como o “Sobre mim” do MySpace são estruturadas para indivíduos explicarem a si mesmos, presumivelmente para estranhos. Essa seção de tipo aberto é exibida centralmente nas páginas dos perfis, mas muitos adolescentes não sentem a necessidade de se descrever para aqueles que já sabem quem eles são. Traviesa, uma adolescente hispânica de 15 anos de idade de Los Angeles, chega ao ponto de usar essa seção para deixar claro que seu perfil é destinado àquelas pessoas que ela já conhece. Ela a usa a seção “Sobre mim” para declarar: “Ei, meu nome é Traviesa … mas a maioria de vocês me conhece de qualquer maneira, apenas fale comigo e pare de ser idiota”. O perfil dela é publicamente visível e ela sabe que estranhos podem acabar tropeçando nele, mas ela acredita que apenas aqueles que a conhecem teriam algum motivo para mergulhar mais fundo. Diante disso, ela não acha que precisa entrar em detalhes sobre quem ela é, embora alegremente ofereça uma lista de suas músicas favoritas.

Assim, a seção “Sobre mim” é o campo aberto mais proeminente em um perfil do MySpace e muitos adolescentes adaptam-no para formas variadas de autoexpressão. Alguns adolescentes exibem vídeos que desejam compartilhar com seus amigos. Outros – principalmente meninas – usam esse espaço para exibir resultados de questionários ou testes de personalidade. Alguns adolescentes escrevem poemas ou exibem uma lista de citações favoritas. Alguns deixam em branco e outros, como Allie acima, levam o desafio a sério e tentam descrever um aspecto de sua identidade. Ao navegar no MySpace, vi uma variedade de diferentes atos de autoexpressão. Um adolescente postou um longo discurso, seguido por: “eu não tento agir como um espertinho / apenas declaro os fatos que eu conheço / também sou muito sincero / lide com isso.” Um garoto adolescente usou essa seção para escrever um poema de amor para sua namorada, exclamando seu amor e prometendo que ele estaria com ela para sempre. Em outro lugar, uma adolescente ofereceu uma lista de fatos sobre si mesma, incluindo “Eu amo patinhos!” Passagens bíblicas e letras de músicas são comuns, assim como fotografias de si mesmo ou dos amigos do adolescente em questão. Embora esses vários movimentos possam não responder diretamente à pergunta feita pela seção “Sobre mim”, todos refletem informações sobre o adolescente que está sendo representado.

Outra seção aberta que adolescentes regularmente adaptam é a “Quem eu gostaria de conhecer”. Com base nos perfis do MySpace que eu vi, a maioria dos adolescentes tratou esta seção de maneira parecida à seção “Sobre mim”, preferindo deixá-la em branco, adicionando multimídia ou questionários, ou mesmo usando-a como uma continuação da seção “Sobre mim”. Muitos dos que realmente abordaram o tópico definiram explicitamente a audiência pretendida: “Gostaria encontrar apenas amigos aqui.” Alguns mencionaram que estariam abertos a encontrar pessoas interessantes ou pessoas que compartilhavam seus interesses, mas isso não era comum. Mais frequentemente, os adolescentes indicaram que gostariam de conhecer celebridades, bandas ou figuras públicas como o Dalai Lama e o papa. Embora esse elemento dos perfis tenha sido projetado para ajudar pessoas a indicar quem elas gostariam de conhecer por meio do site, a escolha de listar pessoas famosas é principalmente sobre marcar identidade pela participação em fandoms9.

Em vez de se descrever, alguns adolescentes usam os campos das seções abertas para expressar os seus sentimentos sobre as pessoas que os rodeiam. Em um perfil, uma adolescente detalhou o quanto ela amava suas amigas em sua “Sobre mim”; em outro, um garoto escreveu uma mensagem de “descanse em paz” para um amigo que morreu. Michael, um adolescente branco de 17 anos de Seattle, me disse que seu perfil se concentrava em duas coisas: futebol americano e sua namorada. Quando nos conhecemos, a sua seção “Sobre mim” começava com “Eu amo minha namorada AMY“. Da mesma forma, Amy, uma adolescente negra10 de 16 anos, encheu seu perfil com odes à Michael. Os dois exibiram seu relacionamento por meio de postagens em blogs, fotos e comentários. Como muitos outros adolescentes, Amy e Michael visivelmente performaram seu relacionamento usando seções de perfil destinadas à autodescrição. Algumas semanas depois que conheci Michael e Amy, eles terminaram. Embora qualquer sinal de Michael tenha desaparecido do perfil de Amy, Michael tornou visível essa alteração no status do relacionamento. Onde antes havia uma proclamação de amor, o perfil de Michael mostrava: “Eu odeio minha ex-namorada vadia idiota”. Oportunamente ou não, os adolescentes regularmente marcam quem são em relação às pessoas ao seu redor, e suas autoapresentações são enquadradas por suas relações com e opiniões sobre os outros.

Usar fotografias de amigos como forma de decoração não é exclusivo da Internet. Quando entrevistei Gabriella, uma hondurenha de 15 anos de idade, em sua escola em Los Angeles, ela entrou na sala segurando um fichário cheio de papel. A frente, o verso e a lateral do fichário eram decorados com uma colagem de fotografias recortadas dela e de suas amigas artisticamente posicionadas. Perguntei a Gabriella sobre o fichário e ela me disse que gostava de ter suas amigas com ela o tempo todo. As escolhas de Gabriella em matéria de roupas, acessórios e maquiagem deixou claro que ela levava a moda a sério. Suas unhas foram pintadas como dados em preto e branco e ela me disse que as refazia regularmente. Gabriella levava seu perfil online tão a sério quanto suas roupas. Ela me disse que procurava ativamente panos de fundo11 interessantes e que mudava seu perfil semanalmente. Naquele dia, o tema era jogo de damas. Ao visitar o seu MySpace, encontrei paralelos entre o perfil dela e o seu fichário – ambos cobertos de fotografias de amigos.

Enquanto os adolescentes se divertem com a maioria dos campos nas seções de autodescrição e de interesses pessoais, suas respostas aos campos de gosto (músicas, programas de TV e filmes favoritos, por exemplo) tendem a ser mais sérias e complexas. Ranquear os “favoritos” em matéria de produtos midiáticos não é simples para muitos adolescentes – gostos mudam com o tempo e muitas pessoas não pensam em seu gosto na forma de listas abstratas. Gostos, como moda, estão enraizados em e construídos por sistemas sociais. As pessoas se distinguem por seus gostos e gostos são uma das maneiras pelas quais as distinções sociais são produzidas (Bourdieu, 1984). Quando solicitados a expressar seus favoritos, muitas pessoas – consciente ou inconscientemente – selecionam gostos que transmitirão a impressão ideal (Donath, 2007). Em outras palavras, elas tentam se posicionar em relação aos outros por meio de suas escolhas de gosto. Analisando perfis do MySpace, Liu (2007) descobriu que estruturas sociais incitam performances de gosto. Surpreendentemente, as pessoas tinham maior probabilidade de listar gostos diferentes de seus Amigos. No entanto, essa diferenciação performativa não implicava que as pessoas não compartilhassem mais gostos com os que as rodeiam. Pelo contrário, é bem provável que o ato de articulação pública motivasse as pessoas a listar gostos que as diferenciassem daqueles que os rodeiam.

O texto de autodescrição, os artefatos de mídia e os layouts de página são apenas um aspecto de um perfil em sites de redes sociais. Outro componente importante é a articulação pública de conexões sociais por meio das Listas de Amigos. Como essas conexões são exibidas publicamente no perfil de um adolescente para todos verem, elas servem como mais do que apenas uma lista de colegas ou uma caderneta de endereços. Essas conexões – e os comentários deixados por esses Amigos – moldam as representações digitais dos adolescentes. Em outras palavras, os sites de redes sociais formalizam o ditado “diga-me com quem andas que direi quem tu és”. Ao mesmo tempo que os adolescentes controlam certo conteúdo em seus perfis, eles não controlam as fotos ou os nomes que seus Amigos selecionam, embora estes também sejam exibidos em seus perfis. Eles podem excluir comentários deixados pelos Amigos, mas, na maioria das vezes, não o fazem. No Facebook, adolescentes também podem postar e marcar outras pessoas em fotos, que são automaticamente conectadas aos seus perfis sem a permissão daqueles que foram marcados12. Dessa forma, o que os adolescentes declaram explicitamente em seus perfis é apenas uma parte da sua autoapresentação online. Seus perfis são fortemente co-construídos por aqueles que os rodeiam.

Efeitos de rede também desempenham um papel significativo na forma como adolescentes constroem seus perfis. À medida que navegam nos perfis uns dos outros, eles percebem o que é comum entre seus grupos de colegas e costumam criar seus perfis para reforçar essas normas. As meninas que têm fotos “sexy” tendem a ter Amigas que também escolhem esse estilo de foto. Os adolescentes que dedicam seus perfis a Jesus tendem a ter Amigos que também mostram publicamente sua fé. Ao navegar em perfis, não é possível dizer quem definiu as normas, mas os nichos são visíveis. Embora o tom geral de um perfil tenda a ser consistente nos grupos sociais, o conteúdo em si raramente é replicado. Por exemplo, embora aspectos gerais de layout do MySpace possam ser consistentes em um grupo de Amigos, dois Amigos não usariam exatamente o mesmo layout. Com estilos de perfil e gostos, os adolescentes tendem a se diferenciar por meio de conteúdo específico mesmo quando o tom geral ou o gênero dos gostos se pareça com o de seus Amigos. Em outras palavras, cada perfil é único, mas há efeitos de rede em termos de tom, gênero e estilo, sugerindo que os adolescentes estão posicionando suas identidades digitais em relação àqueles ao seu redor. Essa prática é semelhante à moda em ambientes não mediados, onde é comum adolescentes escolherem roupas que geralmente são do mesmo estilo que seus pares, mas onde usar exatamente as mesmas roupas que seus amigos é um tabu.

3.2.Cultura e moda do quarto

A maneira como os adolescentes adornam seus perfis online é paralela à maneira como decoram outros espaços e objetos materiais que eles controlam – armários escolares, mochilas, quartos e seus corpos. O estilo de fotomontagem que Gabriella, 15 anos, de Los Angeles, usa para seu fichário espelha quantos adolescentes decoram seus armários e paredes do quarto. Há muito tempo, adolescentes costuram objetos de mídia como uma forma de autoexpressão, colocando-os em espaços ou objetos que estão conectados com eles. Da mesma forma, roupas e acessórios têm sido uma maneira de adolescentes marcarem suas identidades em relação à dinâmica cultural e às pessoas. À medida que adolescentes elaboram seus perfis, eles combinam essas duas práticas, revelando as maneiras pelas quais os perfis são ao mesmo tempo semelhantes e diferentes de seus equivalentes físicos.

Para os adolescentes, especialmente as adolescentes, os quartos e as paredes de pôsteres têm sido há tempos um espaço no qual a participação cultural e a identidade se manifestam, e todas as formas de mídia têm desempenhado um papel central nesse processo (McRobbie & Garber, 1976; Steele & Brown, 1995). A ideia de “cultura do quarto”, tal como inicialmente apresentada por McRobbie & Garber (1976), focava nas maneiras pelas quais as meninas adolescentes consumiam cultura, embora as críticas tenham enfatizado que adolescentes se envolvem ativamente na produção cultural na cultura do quarto, especialmente quando mídias estão envolvidas (Kearney, 2006; Lincoln, 2004; 2005). O que os adolescentes criam por meio de suas escolhas de decoração e de lembranças e recordações são tanto espaços sociais como autorrepresentações (Lincoln, 2004).

À medida que os adolescentes formam públicos em rede, eles levam consigo práticas da cultura do quarto, e os públicos em rede podem ser vistos como “quartos virtuais” (Hodkinson & Lincoln, 2008). Autorrepresentações digitais são equivalentes às paredes dos quartos, onde adolescentes exibem suas identidades e os espaços sociais que são ali criados são ao mesmo tempo iguais e diferentes dos quartos. Misturas de conteúdo de mídia são usadas nos dois ambientes, mas a mídia que adolescentes usam nos quartos é principalmente estática, enquanto o conteúdo exibido em seus perfis pode ser interativo, animado e com links. Pode ser mais barato exibir mídias nos perfis do que nos quartos, mas o tempo para encontrar e combinar essas mídias pode ser muito maior.

Sobretudo, a diferença entre as paredes dos quartos e os perfis é a escala da audiência. Adolescentes podem mostrar seus quartos para os amigos, mas raramente têm a oportunidade de convidar todo o seu grupo para ver como eles os decoraram. Embora a escala potencial da interação online seja muito maior do que em um quarto, Livingstone (2008) descobriu que permanece uma expectativa de intimidade; adolescentes escolhem deliberadamente o que compartilhar com base em sua compreensão da situação social e do contexto técnico. Assim, adolescentes abordam os ambientes da mídia social com uma visão de privacidade voltada principalmente para o controle da situação (Livingstone, 2006). Citando Giddens (1991, p. 94), Livingstone (2008, p. 471) lembra-nos que “a intimidade é a outra face da privacidade”. Pode parecer paradoxal, mas os adolescentes simultaneamente buscam ser acessíveis para algumas audiências e privados para outras (Livingstone, 2008, p. 471). Dessa forma, eles trabalham a partir de um senso de intimidade e controle que é paralelo à cultura do quarto. Muitos dos adolescentes que entrevistei observaram que seus quartos não eram exatamente espaços privativos, porque seus pais e irmãos entravam quando quisessem, mas, ao mesmo tempo, sentiam que esses espaços não eram exatamente públicos, porque eles tinham algum senso de controle e não era qualquer pessoa que poderia ou deveria entrar sem mais nem menos. Em sites de redes sociais, adolescentes podem entender que estão visíveis para uma ampla audiência, mas não veem sua participação nesses públicos em rede como sendo universalmente pública.

A mídia social não substitui necessariamente a cultura do quarto, mas às vezes é uma alternativa significativa, especialmente para adolescentes que não têm controle sobre seus ambientes físicos. Por exemplo, depois de uma palestra que dei em Nova Jersey, uma adolescente me disse que gostava de decorar seu perfil no MySpace porque isso permitia que ela fosse criativa. Ela não teve permissão para alterar seu quarto após sua mãe, que é decoradora de interiores, tê-lo projetado, mas ela poderia fazer o que queria com seu perfil no MySpace. Ela aproveitava a oportunidade para a autoexpressão criativa e mudava seu perfil constantemente. Embora este seja um caso extremo de falta de controle, muitos adolescentes encontram restrições no que podem ou não colocar nas paredes de seus quartos ou em outros espaços onde eles possivelmente já marcaram sua identidade. Muitas das escolas que visitei não têm mais armários ou restringem as decorações dos armários – “por razões de segurança contra incêndios”. A moda é outro espaço onde ter controle da autoexpressão é difícil. Vestimentas e mochilas continuam a constituir um campo de batalha, especialmente no que diz respeito à escola. Da mesma maneira, os pais ainda tentam limitar o que seus filhos podem usar.

A moda desempenha um papel significativo na marcação de identidade (Davis, 1992) e, como discutirei no próximo capítulo13, status (Crane, 2000; Piacentini & Mailer, 2004).  Adolescentes usam a moda para marcar-se em relação uns aos outros (Milner, 2004) e para identificar-se com grupos sociais (Hebdige, 1979). Roupas e acessórios tornam-se ferramentas para a autoexpressão e os adolescentes vestem-se como uma forma de trabalho identitário. No entanto, embora os adolescentes valorizem as oportunidades simbólicas da moda para autoexpressão e identificação (Milner, 2004; Piacentini & Mailer, 2004), os adultos preocupam-se com os marcadores visíveis da resistência dos adolescentes às normas dos adultos e com o reforço das hierarquias sociais. Códigos de vestimenta são relativamente comuns e muitas vezes aclamados pelos pais como abordagens saudáveis para conter a violência de gangues, a promoção de relações de status e hierarquias problemáticas entre adolescentes e o consumismo. Embora a moda e sua relação com status e grupos de pares sejam discutidas em mais detalhes no próximo capítulo14, é importante observar que a moda ainda funciona como um mecanismo chave de autoapresentação e desempenha um papel central no gerenciamento de impressões.

À medida que os adultos buscam controlar as maneiras pelas quais os adolescentes podem se engajar em atos de autoexpressão, os adolescentes buscam novos espaços, incluindo a Internet. Como os perfis são tanto uma representação de um indivíduo como um espaço para interação social, as práticas de autoexpressão assumem um lugar paralelo à cultura do quarto e à moda.

3.3.Variando graus de participação

Embora a criação de um perfil seja necessária para a participar do MySpace, a sua decoração ativa não o é. Os adolescentes frequentemente sentem pressão social para inserir uma foto sua e dedicam algum esforço na criação de seus perfis, mas há menos pressão para atualizar constantemente o estilo e o layout. Ao mesmo tempo, adolescentes geralmente não querem deixar seus perfis ficarem obsoletos porque pensam que isso passa uma má impressão. O desejo de manter um perfil em dia geralmente leva a atualizações. Nick, um adolescente negro com raízes indígenas de 16 anos de Los Angeles, atualiza suas fotos e planos de fundo a cada poucos meses pois, caso contrário, “fica muito chato … aí vou entrar no meu perfil e ver a mesma foto toda vez. Eu fico tipo ‘vou fazer alguma coisa nova’”.

Enquanto alguns adolescentes se sentem motivados a atualizar seus perfis constantemente, outros nunca os atualizam. Alguns, como Shean, um adolescente negro de 17 anos em Los Angeles, usam o MySpace a partir de uma perspectiva funcional, comunicativa. “Não sou muito fã de mudar a minha imagem de pano de fundo e tudo isso. … Desde que eu mantenha contato com meus amigos ou qualquer coisa assim, eu realmente não me importo com a aparência desde que eu esteja, tipo, lá”. A atitude dele é bem comum, embora os meninos expressem isso mais frequentemente do que as meninas. Nas minhas entrevistas, mais meninas sentiam pressão para manter seus perfis atualizados e expressivos, ricos em fotos e novos conteúdos. Quando eu navegava nos perfis, também me parecia que as meninas os atualizavam com mais frequência.

Nem todos os adolescentes sentem pressão para criar o perfil perfeito ou atualizá-lo com frequência, e, mesmo entre aqueles que sentem, nem todos cedem a ela. Da mesma forma como alguns adolescentes resistem às pressões para se adaptar a outras práticas normativas de sua cultura de pares15, alguns adolescentes também evitam a construção e manutenção de perfis online. Grande parte de sua resistência surge de uma frustração generalizada de que a participação requer conformidade com atitudes mais amplas da sua cultura de pares, hierarquias sociais e conjuntos de valores. Quando os adolescentes marginalizados optam pela exclusão e criticam essas práticas, isso geralmente é um movimento explícito de se distanciar das hierarquias de status inatingíveis do pessoal mais “popular”. Suas críticas, ainda que sejam por vezes justificadas, questionam as práticas de trabalho identitário e de negociação de status que ocorrem na construção de perfis. Quando entrevistei adolescentes que evitavam essas práticas, nenhuma era tão articulada e descritiva quanto Cara, uma jovem de 20 anos do Maine. Cheia de sarcasmo, Cara lamentava o ritual de construção de perfis em seu blog:

Realmente eu estou fazendo de tudo para construir uma identidade ideal, e aí todo mundo saberá o quão emo e especial eu sou. É a mesma razão pela qual tenho um LiveJournal e um MySpace, para que eu possa encarar fotos de mim mesma e ficar ajustando meu layout até que me sinta satisfeita com minha tentativa fingida de me definir digitalmente. Tenho uma ideia melhor: vou interromper todas as atividades que de qualquer maneira possam sugerir que estou me prostituindo para alguma imagem estereotipada, e vou parar de tentar porque nenhuma expressão é precisa o suficiente para abranger todas as minhas complexidades humanas. … Que Deus proíba que outras pessoas pensem que eu estava fingindo ou degradando a soma da minha substância a uma lista dos meus filmes favoritos e algumas fotos bem escolhidas.

 

A tirada sarcástica de Cara sobre o processo de desenvolvimento e manutenção de perfil chega ao cerne do porquê adolescentes se envolvem nessas práticas. Muitos adolescentes querem criar uma representação digital que represente bem quem eles são e que seja bem recebida por aqueles que os circundam. No entanto, fazê-lo por meio de um perfil de site de rede social exige que você se encaixe em um conjunto predeterminado de caixas e listas de gostos. O resultado é grosseiro – e nem sempre representativo – o que aumenta a incerteza social pela qual os adolescentes passam ao lidar com seus pares.

A criação de perfis força adolescentes a levar em consideração como eles querem se representar. Ao trabalhar nesse processo, adolescentes calculam quem eles acham que verá seus perfis. Suas decisões sobre o que dizer estão profundamente conectadas ao seu senso de audiência. Esse público é, em geral, composto por seus amigos, e o que os adolescentes dizem é melhor compreendido dentro desse contexto. Fora de contexto, parte do que aparece não é exatamente o que parece.

4.Autoapresentações em contexto

Perfis e outros atos de autoapresentação não são performados no vácuo. As decisões sobre qual conteúdo exibir estão situadas em um contexto orientado pelo espaço, situação social e por pessoas. Em ambientes mediados, a tecnologia ajuda a moldar o contexto, mas a tecnologia sozinha não define o contexto. Para os adolescentes que entrevistei, as outras pessoas foram o fator mais importante levado em conta em suas decisões sobre como se apresentar. Eles estavam preocupados com quem eles achavam que deveria, poderia ou conseguiria ver os seus perfis. O contexto no qual eles estavam operando era primariamente moldado por aqueles que eles imaginavam ser seu público e por como eles se relacionavam com esse grupo. Da mesma forma, ao performar frente a esse público, os adolescentes estavam tentando definir a situação social ao enraizá-la nesse contexto.

Adolescentes tipicamente direcionam seus perfis para suas amigas e amigos. Em múltiplas ocasiões, adolescentes citavam o slogan do site MySpace: “O MySpace é um lugar para amigos”. Essa audiência pretendida é mais visível quando adolescentes se preocupam em ser bem recebidos, uma dinâmica que é mapeada no próximo capítulo16.

Quando pressionados para definir seu público, adolescentes frequentemente concentraram-se em quem eles achavam que não deveria estar visualizando seu perfil. Assim, de maneira geral, eles enfatizaram que adultos não faziam parte de sua audiência pretendida. Por exemplo, quando perguntada se ela achava que seus professores estavam no MySpace, Traviesa, 15 anos, de Los Angeles, respondeu dizendo: “Isso é nojento!” Aria, uma estudante universitária de 20 anos da Califórnia, levou esse sentimento um passo adiante, observando: “Eu realmente não acredito que ‘usar redes sociais na internet’ seja algo que você possa fazer com alguém cujo material genético você herdou sem que você subverta as leis da natureza.” Os desafios em negociar perfis com pais e outros adultos são discutidos em mais detalhes em outro capítulo deste trabalho17.

Falar para um público imaginário não é uma novidade. Escritores, políticos e atores de TV há muito tempo performam para um público imaginário, guiados por quem eles acham que está assistindo e por quem eles desejam que esteja. Essas pessoas aprendem a controlar suas autorrepresentações diante do público imaginário como parte de sua profissão, mas esses atos estão sempre situados em contextos públicos. Para os adolescentes negociando públicos em rede, navegar pelo público imaginário faz parte do dia-a-dia. Ao contrário de profissionais que buscam endereçar o público em geral, adolescentes não estão focados em situar seus atos de maneira ampla. Embora seu público em potencial possa ser global, o público imaginário é muito local, consistindo principalmente em pessoas que eles conhecem. No entanto, adolescentes também devem enfrentar muitas das mesmas complexidades que oradores públicos enfrentam na elaboração de suas autorrepresentações, em parte devido à visibilidade potencial de seus atos.

Em “No Sense of Place”, Joshua Meyrowitz (1985) mapeia maneiras pelas quais a mídia eletrônica – e particularmente a televisão – afeta situações sociais, gerenciamento de impressões e autoapresentação. Ele se concentra nas maneiras pelas quais a mídia eletrônica derruba as fronteiras dos espaços e os contextos sociais, borrando papéis sociais e juntando públicos que não poderiam normalmente estar co-presentes. Por causa da mídia eletrônica, informações e atos sociais perdem seu contexto, e novas identidades, comportamentos, papéis e situações sociais precisam ser formados para dar conta da maneira como a estrutura social é alterada. Isso, por sua vez, desfaz distinções entre público e privado, fronteiras entre grupos sociais e a própria essência da vida pública. Escrevendo antes de a Internet ter ganhado a atenção das massas, Meyrowitz estava adiantado em relação a seu tempo. O que ele demonstra em relação à televisão e outras formas iniciais de mídia eletrônica só se intensificou desde a ascensão da Internet. As complexidades que ele documenta sobre o que figuras públicas enfrentam na administração de contextos sociais agora fazem parte da vida cotidiana.

Enquanto adolescentes aproveitam os recursos de amizade em redes sociais para construir uma audiência imaginária para a qual direcionar suas autoapresentações (boyd, 2006b), quem observa pode nem sempre ser quem os adolescentes esperam ou desejam que seja. Ao passo que alguns adolescentes temem a presença de estranhos que tenham más intenções, vários adolescentes aceitam que estranhos quaisquer possam trombar com seus perfis, assim como estranhos quaisquer passam por eles nas ruas, mas eles assumem que esses estranhos vão passar e seguir em frente. Assim, eles não levam em conta estranhos quaisquer na escolha de como apresentar a si mesmos. Por exemplo, Kiki, uma adolescente negra de 16 anos de idade do Kansas, originalmente tornou seu perfil privado porque, como ela explicou, “não quero ninguém no meu perfil”. Em outras palavras, ela não queria que estranhos passassem por lá. No entanto, uma vez familiarizada com o site, ela decidiu que deveria mudar seu perfil para torná-lo público. Ela percebeu que ninguém iria visitar seu perfil e, portanto, parou de se importar em bloquear o acesso a ele. De qualquer modo, ela não quer aceitar solicitações de Amizade de estranhos, mas receber essas solicitações não a incomoda; ela apenas as ignora.

Ao tentar equilibrar diferentes públicos em potencial e atrair aqueles que desejam, os adolescentes concentram-se em dissuadir visitantes indesejados e elaborar perfis que atraiam seus pares, mesmo que isso seja às custas de perturbar os públicos que eles não desejam. Esse movimento pode ser arriscado, especialmente se o conteúdo do perfil for perturbador para quem detém o poder sobre os adolescentes, porque a tecnologia colapsa facilmente os limites que os permite distinguir contexto por intermédio de grupo social. Os desafios que adolescentes enfrentam em relação ao equilíbrio de diferentes públicos espelham aqueles que Meyrowitz (1985) descreveu em relação às figuras públicas que enfrentam televisão e rádio. Negociar com múltiplos públicos cria colisões de contexto, e os adolescentes sentem mais pressão quando são forçados a lutar simultaneamente com diferentes públicos, como seus pares e pais.

Em um esforço para controlar o contexto de sua autoapresentação, os adolescentes adotam duas táticas diferentes. Primeiro, eles usam meios estruturais, como fornecer informações falsas para não aparecer nas buscas, ou usar as configurações de privacidade para limitar quem pode acessar seus perfis. Essa primeira abordagem é a da “segurança através da obscuridade”, e os adolescentes que eu entrevistei reconhecem que ela não é à prova de falhas, mas acreditam que é uma boa primeira medida para dissuadir professores e responsáveis por processos seletivos de faculdades de encontrarem seus perfis. A intenção de pais de encontrar o perfil é uma história diferente, mas os adolescentes acreditam que as configurações de privacidade são geralmente efetivas contra eles e contra o professor intrometido ou o burocrata da escola.

Segundo, os adolescentes tentam definir a situação social por intermédio de atos explícitos e implícitos de controle de público. Eles usam listas de Amigos para deixar claro quem eles veem como sua audiência pretendida; isso é reforçado por recursos de privacidade que bloqueiam todos os outros. Eles também exigem que pais e outros adultos fiquem de fora, usando linguagem de “Não Entre”, o que é equivalente às brigas entre pais e adolescentes pelo acesso ao quarto. Dessa forma, os adolescentes tentam controlar o acesso ao espaço para definir o contexto. No entanto, isso geralmente é inefetivo, em parte porque a tecnologia faz o acesso parecer ser público. Em inúmeras comunidades, eu ouvi adolescentes tentando dissuadir os pais de acessar seus perfis visíveis, declarando: “Mas é o meu espaço”. Ao responderem “Mas é público”, os pais em geral não entendem o que os adolescentes estão querendo dizer, já que seu senso de privacidade tem a ver com contexto e controle, e não com acesso potencial. Dito isso, essa briga geralmente segue a mesma lógica das brigas entre pais e adolescentes mais velhos por espaço, contexto e privacidade, que incluem argumentos como “mas é meu quarto” e “mas é minha casa”.

5.Performando falsidades - enganação, brincadeira ou controle?

Alguns adolescentes procuram criar perfis completos, enquanto outros mantêm perfis que fornecem pouca informação. No entanto, entre os dois grupos, incontáveis adolescentes respondem a solicitações sobre seu nome, idade, local, renda e outras informações demográficas com respostas que não refletem com precisão a sua identidade “verdadeira”. Às vezes, o que eles listam parece um pouco estranho; outras vezes, a informação parece absurdamente errada. Por exemplo, alguns adolescentes dizem que têm 100 anos ou ganham mais de 250.000 dólares por ano. Em um nível, esse conteúdo pode ser visto como fraudulento. Em outro, parece jogo de identidade. Nenhuma dessas teorias explica por que adolescentes tendem a colocar informações “imprecisas” em seus perfis. Os adolescentes não veem esses atos como enganosos, porque aqueles para quem eles direcionam seus perfis sabem seus nomes reais, idades, localizações e cidades natais. Eles podem ver suas respostas como engraçadas, mas não estão tentando criar uma identidade alternativa. Eles estão simplesmente tentando estruturar sua presença de uma maneira que permita que eles estejam visíveis para quem importa e invisíveis para quem não importa. Por exemplo, ao explicar sua prática de colocar informações falsas no seu MySpace, Mickey, um adolescente mexicano de 15 anos de Los Angeles, diz: “Não é que eu minto no [MySpace], mas eu não coloquei minhas informações reais. Como se eu fosse colocar minhas informações reais em meu ‘Sobre mim’…”. Para Mickey, conteúdo falso não é o mesmo que mentir, porque quem o conhece pode ver que é ele.

5.1.Motivos para fornecer informações imprecisas

Os adolescentes mentem sobre a idade por vários motivos. Alguns estão simplesmente tentando ser engraçados ou divertidos, assim como aqueles que indicam salários altos. Outros procuram enganar estranhos que possam estar interessados em se envolver com eles. Respondendo aos temores dos adultos em relação à segurança, muitos adolescentes acreditam que obscurecer a idade e outras informações de identificação vai minimizar possíveis ameaças. Outro grupo de adolescentes altera sua idade para contornar restrições técnicas e legais. Eles mentem porque a idade corresponde a privilégio nas configurações online. Eles mentem porque essa é a única maneira pela qual eles podem obter acesso à tecnologia que desejam. Eles mentem para contornar barreiras à entrada que eles desrespeitam. E, muitas vezes, eles mentem com o conhecimento de seus pais.

Aproximadamente um quarto dos adolescentes com quem falei tinha perfis que indicavam uma idade falsa. Alguns mentiram excessivamente, indicando que tinham 101, 69 ou outra idade pós-aposentadoria. Penelope, uma adolescente branca de 15 anos de Nebraska, explicou que escolheu listar sua idade como 100 porque achava “engraçado”. Outros indicaram que tinham mais de 18 ou 21 anos – a “maioridade” socialmente construída. Eles me disseram que listaram essas idades porque achavam que o MySpace restringia as contas de menores de idade. Uma adolescente disse que era melhor ter mais de 18 anos, porque isso “manteria os molestadores de crianças longe”. (Ironicamente, muitos adultos se preocupam com o fato de os adolescentes que fingem ser mais velhos terem maior probabilidade de ser vulneráveis a pessoas com intenções maliciosas.) Uma outra adolescente me disse que listou sua idade no MySpace para corresponder ao seu documento de identidade falso, caso alguém fosse verificar. Um terceiro grupo mentiu arbitrariamente, indicando que eles eram entre três anos mais jovens e oito anos mais velhos do que eram. Quando lhes perguntei sobre suas decisões, a maioria deu de ombros e respondeu com um “não sei”. Um garoto me disse que rolou a lista de anos de nascimento e escolheu uma aleatoriamente. Os adolescentes que eu entrevistei não levavam a sério as idades indicadas no perfil, nem pensavam que elas sinalizavam algo importante, mesmo aqueles que indicaram que eram mais velhos. Alguns me disseram que outros adolescentes da escola marcavam que eram mais velhos para parecer “bacanas”18, mas isso nunca veio daqueles cujos perfis marcavam a faixa etária dos “bacanas” (entre 18 a 25 anos), e duvido que aqueles que arbitrariamente escolheram idades acima de 40 anos tenham tentado parecer “bacanas” quando me disseram que não sabiam por que escolheram essa idade. O exemplo mais próximo que eu experimentei de alguém levar a sério a idade do perfil foi um adolescente que entrou no Facebook como estudante do ensino médio na época em que somente estudantes universitários eram aceitos, porque seu pai havia lhe dado um endereço .edu; ele disse que se marcou como mais velho porque os estudantes universitários são mais velhos e ele não queria se destacar.

Entre outros grupos sociais ou em outros contextos, as falsas informações de idade significam coisas diferentes. Nos sites de namoro online, os adultos costumam eliminar alguns anos (e alguns quilos) para parecer desejáveis a possíveis pretendentes (Hancock et al., 2007). Nesse contexto, os adultos estão engajados intencionalmente em enganar outras pessoas. Às vezes, adolescentes mudam suas idades como um ato intencional de enganar, mas em geral seu objetivo é enganar empresas cujos sites têm restrições de idade ou desencorajar a atenção indesejada de estranhos. Da perspectiva deles, as pessoas que importam para eles (por exemplo, seus amigos) já sabem sua idade, e não precisam ser informados por um sistema. Para os adolescentes, é mais importante inserir corretamente a data de aniversário do que o ano de nascimento, para que, quando os sistemas lembrem seus amigos de seus aniversários, não ocorram situações embaraçosas. Quando se trata de grupos de pares, as consequências sociais de fornecer informações imprecisas sobre a data de nascimento são muito maiores do que as de informar um ano impreciso.

Embora adolescentes tenham motivações diferentes para fornecer informações imprecisas, isso se tornou uma prática comum. A maioria dos adolescentes que se envolvem nessas práticas não está tentando enganar, mas aproveitar a tecnologia para atender às suas necessidades.

5.2.Limitações legais e técnicas

Em 1998, o Congresso dos EUA aprovou a Lei de Privacidade de Proteção Online das Crianças (Children’s Online Protection Privacy Act, ou COPPA). Com o objetivo de proteger crianças em relação à publicidade comercial, o COPPA proíbe que websites coletem informações de crianças menores de 13 anos sem uma permissão verificável dos pais. Também inclui disposições para quando os sites devem fornecer políticas e regras de privacidade para proteger a segurança de crianças menores de 13 anos. Como a verificação da idade é um pesadelo do ponto de vista técnico e de privacidade, a maioria dos sites impede que todos aqueles que afirmam ter menos de 13 anos criem uma conta, como forma de cumprir a lei. A abordagem mais comum adotada pelos sites é limitar a lista de anos de nascimento no menu suspenso para o ano corrente menos 13. O COPPA não impediu a maioria das crianças de criar contas, mas ensinou às crianças e seus pais uma lição importante: mentir é o caminho para o acesso.

Muitos dos adolescentes que entrevistei aprenderam a mentir sobre suas idades no ensino médio, quando eram menores de 13 anos. Quando perguntei aos adolescentes como eles aprenderam a mudar seu ano de nascimento para ter acesso, pais e irmãos mais velhos eram com mais frequência os culpados. Uma vez, quando eu estava conversando com um par de mãe/filha em um aeroporto, a adolescente me disse que, quando todas as suas amigas estavam entrando no serviço de mensagens instantâneas (AIM) da AOL, ela foi conversar com sua mãe sobre ser muito jovem para criar uma conta. Sua mãe se sentou com ela no computador e mostrou-lhe como mudar seu ano de nascimento durante o processo de inscrição. A mãe confirmou esse relato, observando que achava que as limitações eram “idiotas” e que as empresas de tecnologia não deveriam fazer o papel dos pais. Elas não foram um caso isolado – ouvi relatos semelhantes no país todo e, para o grupo que entrevistei, o AIM foi a porta de entrada para enganar sobre a idade. A maioria entrou no início do ensino médio, geralmente com o conhecimento dos pais. Quando entraram no MySpace, eles já estavam acostumados a mentir sobre a idade e o faziam regularmente.

Não entrevistei adolescentes que eram jovens demais para estar no Facebook ou MySpace, mas há inquestionavelmente jovens menores de idade usando esses sites. Em um grupo focal de Boston, conduzido por membros do projeto “Nativos Digitais” do Berkman Center, Tom, de 12 anos, declarou que estava no Facebook, apesar de não ser propriamente qualificado para isso, porque “não há como provar a idade. Você pode acessar qualquer site e dizer: ‘Nasci em 1981 e agora tenho 18 anos’.” Ele achava as limitações de idade ridículas e queria que elas não existissem, mas “mesmo que o limite de idade não seja diminuído, ainda há pessoas como eu. Tecnicamente, ainda não tenho permissão para estar no Facebook. Mas eu posso dizer que agora tenho 14 anos.” Tom mente sobre sua idade porque pode e porque isso lhe dá acesso a um site que ele acredita que deveria ter o direito de acessar.

O COPPA foi pensado para proteger a privacidade das crianças e impedir que elas fossem assediadas por publicidade comercial, mas ele foi sendo cada vez mais creditado como um mecanismo de segurança. Os adolescentes que entrevistei não sabiam das intenções por trás das restrições, e simplesmente as viam como uma ferramenta de controle. Assim, eles assumiram que qualquer site que pedisse sua idade limitaria suas atividades, dependendo do que elas selecionassem. Como muitos sites, o MySpace oferece recursos diferentes para os usuários com base nas idades. Sem saber das diferenças, muitos adolescentes assumiram que as contas de menores eram provavelmente limitadas ou “deficientes”, levando-os a identificar-se como mais velhos. Ironicamente, as contas para menores eram inicialmente mais avançadas que as contas para adultos – por exemplo, menores de idade tinham opções de privacidade, enquanto usuários adultos não podiam tornar seus perfis privados. Havia também restrições, mas geralmente elas protegiam a privacidade dos adolescentes. Enquanto os adolescentes mentiam ser mais velhos para evitar restrições, os adultos começaram a mentir ser mais jovens para obter acesso a recursos adicionais.

5.3Segurança por imprecisão

Os adolescentes não fornecem informações imprecisas sobre a idade para contornar as limitações técnicas. Em todo o país, os adultos regularmente incentivam os adolescentes a mentir para evitar possíveis predadores sexuais, e a maioria dos adolescentes com quem conversei acreditava que o fornecimento de informações imprecisas era um passo importante para a segurança19. Agentes do sistema de justiça realizam assembleias escolares regularmente, e nelas incentivam os jovens a não fornecer informações de identificação a sites públicos. Em Michigan, Bianca e Sasha, de 16 anos, contaram de uma assembleia escolar feita por policiais na qual os policiais tentaram assustar os adolescentes para longe do Facebook e do MySpace, contando histórias de terror de casos terríveis. O que Bianca e Sasha tiraram desse evento foi que os adolescentes que sofreram com as histórias eram “burros”, e ser “inteligente” significava não publicar informações reais. Pais e professores replicam essa visão, incentivando os adolescentes a mentir explicitamente sobre quem são e de onde são, para evitar serem perseguidos. Os adolescentes que entrevistei apresentavam muito menos probabilidade de fornecer informações imprecisas no Facebook do que no MySpace, provavelmente porque acreditavam que o Facebook era mais seguro que o MySpace e que corriam menos riscos.

Por razões semelhantes, muitos adolescentes mentem sobre sua localização. Enquanto adolescentes em grandes centros urbanos como Los Angeles normalmente forneciam informações precisas sobre a cidade natal, os adolescentes em cidades ou subúrbios menores geralmente não. Alguns listaram apenas seus estados, mas muitos outros escolheram apelidos para suas cidades, como “Lugar nenhum”, “um lugar em que você não está” e “Caipirolândia”. Outros mentiam sobre seus estados ou países. Quando comecei a analisar perfis de adolescentes, essa prática parecia generalizada. Embora seja impossível verificar os locais dos adolescentes que não entrevistei, parece improvável que tantos adolescentes no Afeganistão e no Zimbábue estejam conectados e ativos no MySpace. O que torna suas informações de localização especialmente suspeitas é que esses usuários geralmente parecem brancos, listam escolas secundárias dos EUA e têm amigos que são principalmente de uma única cidade pequena nos Estados Unidos. Embora alguns desses adolescentes possam realmente estar estudando no exterior, é mais provável que eles escolham esses países porque são a primeira e a última opção no menu suspenso de países. O fornecimento de informações imprecisas sobre a localização é particularmente comum entre os adolescentes que se preocupam com segurança, e os pais incentivam essa prática.

Em outros esforços para ocultar as informações de identificação, alguns adolescentes publicam nomes falsos ou colocam imagens ou fotos abstratas que não são identificáveis. Além de evitar predadores em potencial, os adolescentes que faziam isso frequentemente tentavam evitar os pais, professores e outros adultos que conheciam e que tinham poder sobre eles. Em outras palavras, eles estavam usando “segurança através da obscuridade” para obter privacidade.

Aaron, um adolescente branco de 15 anos de um subúrbio no Texas, tem informações demográficas majoritariamente falsas em seu perfil. Seu MySpace lista um nome falso que faz referência à cultura midiática e indica que ele tem mais de 80 anos e é do Azerbaijão. Seu perfil é privado e sua foto principal é claramente editada no Photoshop. Quando perguntei a ele sobre sua foto, ele disse: “Eu a transformei em negativo, pra que, se você me conhece, você pudesse dizer ‘Ah, é, é ele’.” Não ter uma foto real reduz o risco de um estranho encontrá-lo. É praticamente impossível dizer que esse perfil é de Aaron, a menos que ele tenha o adicionado como amigo. No entanto, uma vez que adicionado, é possível ver o seu Sobre Mim, onde ele afirma claramente que esse perfil pertence a Aaron. Aaron não está tentando enganar seus amigos. Em vez disso, ele está tentando diminuir a probabilidade de seu perfil ser encontrado por seus pais, professores e qualquer estranho que queira entrar em contato com ele. Ele quer que o MySpace esteja disponível apenas para amigos da escola e da igreja, e ele não se preocupa com o fato de que eles interpretem mal sua idade ou local, embora ele tenha dito que algumas pessoas brincaram com ele sobre suas escolhas. Ele escolheu uma foto que ajudasse aqueles que desejam fazer amizade com ele a confirmar que realmente é ele, ao mesmo tempo que fosse irreconhecível para quem está simplesmente zapeando perfis. Ainda assim, ele expressou dúvidas sobre a foto, porque sabia que pais e professores também o reconheceriam e ele não queria isso. Logo depois da nossa entrevista, ele mudou sua foto principal para um personagem de desenho animado.

Nada no perfil de Aaron é impróprio ou vergonhoso. Ele tem alguns vídeos engraçados do YouTube e algumas imagens de desenhos animados que, embora protegidas por direitos autorais, não sugerem nada além de um gosto por essa forma de arte e pela cultura ao seu redor. Suas fotos são todas de “classificação livre” e consistem principalmente em fotos dele brincando com seus amigos. Seu conteúdo escrito sugere que ele é apaixonado por música e esportes, tem muito espírito escolar, é antidrogas, antiálcool e realmente tem fé em sua igreja. A única coisa que ele inclui que pode ofender alguém é sua opinião sobre a guerra e um banner para um candidato político que ele apoia. Vale observar que os comentários de seus Amigos são mais vivazes, incluindo linguajar e discursos chulos que podem ser interpretados como ataques ao Aaron. Do ponto de vista de Aaron, isso é apenas a forma como seus amigos conversam. Isso é consistente com outros estudos que indicaram que a maioria dos perfis do MySpace contêm alguns palavrões e que palavrões parecem ser comuns entre os jovens no MySpace (Thelwall, 2008).

Pesquisadores apontam que os detratores da privacidade costumam argumentar que as únicas pessoas que querem privacidade são aquelas que têm algo a esconder (Solove, 2007). Aaron está se escondendo, mas não é porque ele tem algo a esconder. À exceção de uma possível má interpretação dos comentários de seus Amigos, o perfil de Aaron revela um adolescente saudável, comprometido e apaixonado por escola, atividades, política e Deus. Ele escolhe ser privado para evitar contatos indesejados tanto daqueles que o conhecem e podem interpretar mal sua participação no MySpace quanto daqueles que não o conhecem e que podem ter intenções maliciosas. Embora ele não pense que está fazendo algo errado, ele não quer que sua mãe saiba sobre seu perfil. Ele está preocupado que isso a aflija, porque ela frequentemente lhe conta de relatos terríveis sobre o MySpace que ela ouve nas notícias, e porque ela se mostra frequentemente preocupada com a possibilidade de Aaron ser sequestrado. Ele não mentiu sobre sua conta porque ela não perguntou, mas prefere que ela não descubra pesquisando.

O fornecimento de informações imprecisas é um dos principais mecanismos pelos quais os adolescentes tentam controlar o acesso aos seus perfis. Eles acreditam que informações imprecisas tornam muito mais difícil para quem detém poder sobre eles e para quem tem intenções maliciosas encontrá-los. Os adolescentes foram tão socializados em práticas de enganar online e internalizaram tanto os avisos de segurança que acreditam que fornecer informações imprecisas os deixa mais seguros e evita o contato indesejado. Da mesma forma, adolescentes têm pouco incentivo para fornecer informações demográficas precisas quando a audiência principal é de amigos. Localizar-se em “Caipirolândia, EUA” é visto como divertido, não enganoso.

Na construção de seus perfis de site de rede social, os adolescentes são forçados a enfrentar visões conflitantes de como perfis se relacionam com identidade. Muitos adultos – e a própria tecnologia – esperam que os adolescentes construam uma identidade digital vinculada a uma identidade corporificada por meio de informações demográficas articuladas e informações de identificação. Honestidade envolve o fornecimento desses dados e a construção do próprio perfil em torno dessas informações. A extensão lógica desse ponto de vista é que todas as outras informações imprecisas são um jogo de identidade ou um ato de enganar. Embora esse ponto de vista seja bastante comum entre adultos, adolescentes não compartilham dele.

Adolescentes abordam perfis e sua identidade digital a partir de um ponto de vista diferente. Como as redes sociais pré-existentes que interligam os ambientes online e offline definem o contexto social, os adolescentes não sentem a necessidade de fornecer informações demográficas ou de identificação. Na sua opinião, essas informações já estão disponíveis e já foram compreendidas por aqueles para quem são relevantes. Dominic, um adolescente branco de 16 anos de Seattle, explica: “Como todos os meus Amigos são realmente meus amigos, eles vão saber se eu estou brincando ou não”. Os adolescentes não estão interessados em fornecer informações de identificação aos sistemas simplesmente para serem honestos. Eles não veem isso como uma violação do comportamento ético, e sim acreditam que fornecer essas informações pode colocá-los em risco mais tarde. Ao criar um perfil, os adolescentes não estão construindo um dossiê do censo – eles escolhem o conteúdo que os ajuda a definir a situação social e a se expressar nesse contexto.

6.Controlando o acesso: público ou privado?

Em situações sociais não mediadas, as pessoas tendem a saber quem está presente para testemunhar um ato social. Esse não costuma ser o caso em públicos em rede, onde audiências são invisíveis e o acesso é assíncrono. As limitações físicas ajudam a controlar os limites de ambientes não mediados – as paredes definem o espaço e as expressões podem ser testemunhadas apenas de forma auditiva ou visual. Online, os limites são porosos – a pesquisa colapsa os contextos, a replicabilidade permite que traços de atos sociais sejam copiados para outros espaços e a permanência dos dados significa que os atos executados não são delimitados pela efemeridade. Em outras palavras, tentar restringir os atos sociais a um único espaço online é inútil, mesmo que essa seja a norma em ambientes não mediados. Os adolescentes centralizam sua compreensão do contexto em outras pessoas. Na falta de capacidade de conseguir controlar o contexto e a audiência através do confinamento de atos sociais a espaços específicos, os adolescentes precisam definir a situação por meio do controle da audiência em potencial. Dados imprecisos podem evitar a busca, mas não são uma ferramenta eficaz para controlar o acesso. Em vez disso, os adolescentes aproveitam as configurações de privacidade para limitar o acesso a pessoas específicas, reforçando a conexão entre audiência e contexto em públicos em rede.

O controle da visibilidade por meio das configurações de privacidade varia de acordo com o site. No MySpace, os perfis são “públicos” ou “privados” – os perfis que são “públicos” podem ser visualizados por qualquer pessoa, enquanto apenas os Amigos de um indivíduo podem acessar perfis “privados”. O Facebook é um pouco mais complexo, porque suas configurações de privacidade envolvem redes de escolas e bairros. Os adolescentes podem tornar seus perfis visíveis apenas para seus Amigos ou podem ajustar as configurações para envolver todos em suas redes. O Facebook permite que os adolescentes ajustem as configurações por módulo. Desde que meu trabalho de campo terminou, o Facebook adicionou camadas adicionais de privacidade, incluindo a capacidade de criar grupos de pessoas e controlar elementos por grupos20.

Todos os adolescentes que eu entrevistei estavam cientes das configurações de privacidade, mas nem todos sabiam como usá-las ou o que as opções significavam. Nick, o adolescente de 16 anos de Los Angeles, me disse que, quando a namorada de seu irmão criou o perfil dele, ela o definiu como privado e ele ainda precisa descobrir como mudar. Embora alguns adolescentes não saibam como, 66% dos entrevistados pela Pew em 2006 (Lenhart & Madden, 2007b) relataram que de alguma forma limitam o acesso ao seu perfil. Isso é particularmente impressionante, já que os usuários frequentemente não entendem as opções de privacidade, muito menos ajustam as configurações padrão (Lederer et al., 2004).

Embora os adolescentes pareçam limitar o acesso, descobri que suas percepções de visibilidade nem sempre correspondiam à realidade, principalmente com relação ao Facebook. Como o Facebook é percebido como a alternativa mais segura ao MySpace, poucos adolescentes se preocupam em observar as configurações de privacidade ali. Em uma reunião privada depois de terminar meu trabalho de campo, eu estava conversando com uma adolescente sobre as diferenças entre o MySpace e o Facebook, e ela me disse que o Facebook era muito mais privado, porque apenas pessoas que você conhecia podiam ver seu perfil. Ao entrar no Facebook, entrei na rede da cidade em que ela estava, acessei seu perfil e mostrei a ela. Ela ficou chocada – ela não tinha percebido que ingressar em uma rede da cidade tornava seu perfil visível para as pessoas que diziam ser daquela cidade. Consegui repetir esse truque em várias ocasiões com adolescentes e adultos. Embora não haja dados sobre quantos adolescentes ingressam nas redes de cidades ou quantos deles não percebem o quanto seus perfis estão visíveis, eu consegui acessar muitos perfis de adolescentes por meio do ingresso em redes de cidades de todo o país, e senti que poucos deles, e os adolescentes em geral, entendiam isso. Adolescentes em todo o país me disseram que achavam que o Facebook é mais seguro que o MySpace por causa de como ele lida com a privacidade. Quando perguntado por que, Sasha,  adolescente de 16 anos de Michigan, me disse que mais controles significavam maior privacidade, enquanto Kaleb, um adolescente negro de 15 anos, também de Michigan, me disse que não sabia o porquê, mas “tinha essa impressão”. Na verdade, os dois adolescentes tinham páginas no Facebook mais visíveis do que uma página do MySpace somente para Amigos seria.

Adolescentes que usam o MySpace são muito mais fluentes na linguagem das configurações de privacidade e a maioria optou conscientemente por tornar seus perfis públicos ou privados. Os adolescentes que conheci que tinham perfis públicos escolheram esse caminho intencionalmente. Alguns adolescentes deixaram seus perfis públicos para poder ser facilmente encontrados. Sabrina, uma adolescente branca de 14 anos do Texas, explica que ter um perfil público é a melhor maneira de ser encontrada pelos amigos. Ela diz: “Eu procurei alguns dos meus amigos pelo nome deles, mas se [o perfil deles] é privado, não consigo descobrir se são eles.” Em Los Angeles, Eduardo, um músico de ascendência hispânica de 17 anos, deixa seu perfil visível porque sua música está disponível lá. Ele espera que pessoas o ouçam e ele quer se conectar com outros músicos e ser acessível a fãs em potencial. Alguns adolescentes evitam a pressão para se tornar privados porque pensam que isso implica que eles têm algo a esconder. Por exemplo, Shean, o adolescente de 17 anos de Los Angeles, mantém seu perfil público porque, como ele diz, “não acredito que exista algo privado na minha página”. Ao mesmo tempo, ele reconhece que alguns dos seus amigos se tornaram privados para evitar pessoas específicas e afastar spammers.

Os adolescentes que optavam por tornar seus perfis privados também tinham motivos específicos para querer controlar quem poderia acessar seu conteúdo. Alguns, como Penelope, a adolescente de 15 anos de Nebraska, queriam conhecer sua audiência. Penelope explicou que ela mantinha seu perfil privado “para que eu saiba quem está olhando para minha página a que horas”. Embora ela não esteja realmente ciente de quem está visualizando seu perfil, ela quer ter controle sobre quem pode. Outros, como Ann, uma adolescente branca de 15 anos de Seattle, tornam seus perfis privados como precaução de segurança. Ann explica: “Meu perfil é privado e para amigos apenas porque quero estar segura e não quero que meus pais se preocupem”. Para Ann e para muitos outros adolescentes que entraram após escutar várias histórias de terror, a visibilidade não compensa os potenciais riscos. Laura, uma adolescente branca de 17 anos com raízes indígenas de Washington, explica: “O risco de ter um perfil aberto não vale a pena para mim. Quero me sentir no controle da minha própria segurança pessoal. Não quero que o mundo inteiro esteja ciente dos meus sentimentos ou de qual escola frequento”. Ela está preocupada com o fato de que estranhos mal-intencionados possam usar suas informações contra ela e acha que mantê-las bem guardadas é uma forma de proteção. Muitos adolescentes mantêm seus perfis privados para impedir o acesso de pais, professores, irmãos, agentes de admissão de faculdade ou outros que possam usar seu conteúdo contra eles. Outros o fazem na tentativa de evitar spammers, golpistas, publicidade comercial e phishers.

Mesmo aqueles que querem ser encontrados por alguns não estão interessados em serem encontrados por todos, e aqueles que pensam que não têm nada a esconder não estão necessariamente desejando serem vistos por qualquer pessoa. Muitos dos entrevistados que adotaram o MySpace no início muitas vezes viam o site como voltado para adolescentes e não viam necessidade de tornar seus perfis privados, porque ser público tornava mais fácil a conexão com amigos e colegas de classe. Com o tempo, quando os adultos começaram a participar e outros problemas surgiram, muitos desses adolescentes tornaram seus perfis privados. A postura deles – “público por padrão, privado quando necessário” – é uma abordagem sobre a privacidade que eu via frequentemente em adolescentes. O crescimento de adultos e os perigos potenciais de atenção indesejada forçaram os adolescentes a reverterem para uma postura mais privada, embora muitas vezes preferissem o fácil acesso que ser público permitia. Ser “público” fazia sentido quando o público potencial relativamente homogêneo não criava conflitos na forma como as pessoas se apresentavam, mas, quando os adolescentes começaram a enfrentar públicos indesejados, muitos optaram por controlar o acesso em vez de limitar a autorrepresentação.

Ao mesmo tempo que a maioria dos adolescentes que entrevistei não se arrependa de se mover para um modelo de apenas-para-Amigos, isso complica o processo de adicionar amigos no MySpace. Com perfis públicos, os adolescentes poderiam justificar a não aceitação de solicitações de amizade de pessoas que eles conheciam, mas não se sentiam próximas. Quando eles tornaram seus perfis privados, eles fecharam a visibilidade para todos, exceto para seus Amigos. Por causa disso, aqueles que mudaram de público para privado sentiram-se mais compelidos a incluir seu grupo mais amplo de amigos entre seus Amigos. O Facebook alterou um pouco essa dinâmica, permitindo que os adolescentes tornassem seus perfis visíveis para todos os colegas de classe sem aceitá-los como Amigos. Ao mesmo tempo, outras pressões frequentemente motivavam os adolescentes a incluir todos os colegas de classe como Amigos.

O desejo que os adolescentes têm de controlar o acesso também tem uma correspondência no desejo de saber quem está visualizando seu perfil. Adolescentes como Penelope, 15 anos, de Nebraska, limitam o acesso para saber quem está visualizando seu perfil, mas os adolescentes também procuram outros mecanismos para controlar seus visitantes. Esse desejo de saber levou programadores a desenvolver “rastreadores” para o MySpace, permitindo aos usuários copiar e colar bits de código javascript em seus perfis para capturar os endereços IP daqueles que visitavam suas páginas. Alguns desses scripts iniciais funcionaram, mas o MySpace bloqueou-os rapidamente. Isso não reduziu sua desejabilidade, e os usuários começaram a vasculhar a web em busca de alternativas. Enquanto alguns programadores tentaram produzir softwares legítimos para executar essa tarefa, vários golpistas começaram a capitalizar o desejo dos adolescentes de ter esse recurso. Eles disfarçaram códigos de phishing e spam em rastreadores, o que fez com que milhões de adolescentes (e adultos) que não entendem o que aqueles scripts faziam instalarem-nos em suas páginas. Esse malware causou um dano imenso ao MySpace, e a empresa passou muito tempo tentando impedir o que esses golpistas estavam fazendo. Em 2007, Tom Anderson, fundador do MySpace, fez um post pedindo aos usuários que não adicionassem rastreadores aos seus perfis. A empresa publicou boletins sobre spammers, phishing e scripts falsos. No entanto, enquanto escrevo esse texto, a pesquisa por combinações de “rastreador de perfis do myspace” devolve milhões de resultados no Google para sites que oferecem códigos gratuitos que prometem rastrear os visualizadores de perfis. Alguns afirmam ser “oficiais” e outros afirmam ser “os mais avançados”, mas o fato de muitos deles afirmarem ser “reais” é mais um indicativo do problema que esse desejo produziu. Nenhum desses rastreadores funciona, mas os adolescentes continuam copiando e colando o código desses sites em seus perfis em um esforço de saber quem os está visitando.

Na superfície, controlar e rastrear o acesso é geralmente visto como algo relacionado à segurança, mas, na prática, acaba servindo como um mecanismo para delimitar contexto. Os adolescentes querem ter uma noção de quem está presente para saber o que é apropriado. Quando os adultos ingressaram no site, os adolescentes também queriam controlar o que acontece quando suas autoperformances são usadas contra eles, seja por mal-entendidos ou discordâncias. Dois desses incidentes forçaram Kira, uma adolescente branca e de origem latina de 17 anos de Seattle, a tornar seu perfil privado e apenas para colegas. Primeiro, seu avô encontrou seu perfil público, onde ela havia respondido a um quiz que perguntava: “Qual música do Sublime é você?” Suas respostas resultaram na música “Smoke Two Joints”, e seu perfil mostrava uma parte da letra: “Eu fumo dois baseados de manhã, eu fumo dois baseados de tarde.” Ela gostou da música e não pensou muito nisso até que seu avô fez toda a sua família “surtar”, por dizer que ela estava viciada em maconha. Depois disso, ela tornou seu perfil privado, mas deixou sua madrasta como uma de suas Amigas. Seus avós mais tarde usaram a conta de sua madrasta para acessar seu perfil e interpretaram mal uma foto de um grupo de meninas que ela postou com a legenda “Eu amo Colleen, Kylie e Brook”. Ela havia revelado a eles ser bissexual, e eles interpretaram a informação como uma indicação de que ela estava saindo com múltiplas parceiras. Depois desse tumulto, ela eliminou todos os adultos de sua lista de Amigos. Ao contar essa história, Kira mostrou-se frustrada por não poder dizer nada online sem que os adultos interpretassem errado.

A interpretação incorreta é um desafio que os adolescentes enfrentam. Clyde, um adolescente branco e de origem hispânica de 16 anos de Michigan, mantém seu perfil privado porque teme que as pessoas possam interpretar mal os comentários deixados pelos seus Amigos e achar que ele é um “babaca”. Os comentários incluem “Vá se ferrar. Você é um merda. Se liga, [e] são apenas comentários que ninguém entenderia a não ser eu.” Ele sabe que seus Amigos estão brincando, mas ele acha que os outros podem não entender. Outra questão para os adolescentes é que seus amigos e pais não necessariamente compartilham das mesmas opiniões sobre o que é apropriado. Em Seattle, James, um adolescente branco de 17 anos de idade, com raízes indígenas, decidiu tornar seu perfil privado depois de ver um amigo se envolver em problemas. Depois de uma festa, os Amigos de seu amigo postaram comentários em sua página do MySpace dizendo coisas como: “Putz, cara, você estava tão zoado nessa festa. Você estava tão bêbado. Você estava tão chapado.” A mãe do amigo viu os comentários e deixou-o de castigo imediatamente. James não estava preocupado com o fato de seus pais se oporem ao seu perfil, mas tinha receio de seus Amigos postarem algo que levaria a conflitos com seus pais. Como as autoapresentações dos adolescentes são co-construídas por aqueles que os rodeiam, controlar o acesso também é desejável para impedir que audiências mais amplas acessem conteúdo que eles não controlam.

Adolescentes contam com os recursos de privacidade para controlar a situação social online. Esses recursos, embora benéficos, não estão livres de problemas. A escolha de quem adicionar como Amigo pode gerar situações estranhas na sociabilidade. Assim, adolescentes são frequentemente forçados a adicionar pessoas de diferentes contextos sociais como Amigos, ou pessoas de quem não são tão próximos. Assim, sua possibilidade de restringir a audiência não resolve necessariamente seu desejo de ter um contexto coerente no qual agir.

7.Gerenciamento de identidade nos públicos em rede

À medida que os adolescentes escrevem as suas existências, formuladas no contexto de seus pares, eles são forçados a enfrentar as maneiras pelas quais o gerenciamento de impressões em públicos em rede é diferente do que ocorre em encontros cara-a-cara. Os recursos técnicos para definir a situação e se apresentar são bem diferentes, e forçam os adolescentes a articular explicitamente sua identidade, imaginar o contexto em que estão operando e negociar as impressões que estão transmitindo com poucas estruturas de retorno e avaliação21. Muito do que eles enfrentam é uma extensão do que Meyrowitz (1985) descreveu em sua discussão sobre como a mídia eletrônica altera a negociação de situações. No entanto, Meyrowitz, escrevendo antes da emergência da Internet, não deu conta do que aconteceria quando os processos que celebridades e pessoas públicas enfrentavam por detrás da tela se tornassem parte da vida cotidiana.

Diferentemente das pessoas públicas que procuram se autodefinir para um público desconhecido usando mídia eletrônica, os adolescentes estão construindo apresentações de si para pessoas com quem eles interagem todos os dias. O que acontece online influencia situações não mediadas e o que ocorre na escola molda as situações sociais definidas nos públicos em rede. Para os adolescentes, os dois estão constantemente enredados e o contexto em que eles estão operando abrange tanto encontros mediados como não mediados. E, além disso, em cada ambiente os adolescentes precisam lidar com outras forças. Na escola, os adolescentes são confrontados com adultos que tentam controlar a situação social. Nos públicos em rede, eles têm de enfrentar públicos invisíveis e desconhecidos, muitos dos quais detêm poder sobre eles. Seus esforços para definir a situação e controlar o contexto são frequentemente frustrados por adultos que procuram controlar o seu mundo social.

Em todos os ambientes, a identidade de adolescentes é normalmente definida em relação às pessoas ao seu redor. As categorias sociais que moldam as relações sociais na escola (Eckert, 1989) ajudam a definir a identidade dos adolescentes, tanto na maneira como eles mesmos se identificam com essas categorias sociais quanto na maneira como os outros os definem. Isso se torna mais explícito no online. As relações sociais são publicamente articuladas e os perfis dos adolescentes incluem não apenas o que eles mesmos declaram explicitamente, mas também o que os outros afirmam sobre e para eles. Goffman (1959) fala de como a apresentação de si de uma pessoa compreende o que ela fornece explicitamente e o que ela deixa transparecer. Embora muito do que os adolescentes incluam explicitamente em seus perfis deixe transparecer sinais importantes, o que seus Amigos dizem faz transparecer sinais em um nível totalmente novo.

Mais do que qualquer coisa, o que diferencia o gerenciamento de impressões em ambientes mediados e não mediados é a forma como os atos de autoapresentação repetem-se ou não. É frequentemente impossível, para quem está se apresentando, avaliar o sucesso das próprias performances em transmitir sua noção de si à audiência. Não há sistemas de avaliação22 que permitam aos adolescentes se ajustar com base na reação de uma audiência real, e, muitas vezes, não há como saber de verdade quem é a audiência. A audiência pretendida de um adolescente pode não estar realmente consumindo o conteúdo produzido, e a audiência verdadeira pode ser bem diferente da percebida ou imaginada. O retorno acaba por ocorrer em razão dos vários ambientes nos quais os adolescentes operam com as mesmas pessoas, mas uma alteração de perfil não é um ato efêmero, e os ajustes podem ocorrer muito depois do dano ser causado.

Mesmo que os adolescentes entendam o contexto em que estão operando, eles podem não entender o contexto em que seus amigos estão operando. Em ambientes não mediados, as testemunhas podem olhar ao redor e avaliar a audiência por si mesmas, mas online isso não é possível. Assim, quando os adolescentes contribuem para a autoapresentação de seus amigos, eles podem colocá-los em posições desconfortáveis quando suas noções sobre o contexto não são compatíveis. A lista de Amigos dos adolescentes ajuda a transmitir o que os adolescentes pretendem e imaginam ser sua audiência, mas elas podem não ajudar a resolver os conflitos que os adolescentes enfrentam. Como partes centrais dos perfis, essas listas permitem que os adolescentes expressem informações sobre suas identidades, mas também alimentam diretamente as maneiras pelas quais os adolescentes negociam status e manobram no seu mundo social.

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