Carta dos Editores
A revista Internet&Sociedade chega em seu segundo volume em meio à pandemia. Faz dezesseis meses que os editores e os colaboradores da revista trabalham à distância, experimentando na carne a hiperdigitalização do cotidiano, a ubiquidade das telas e a intermediação das comunicações digitais. Desnecessário dizer, é mais uma edição que vem com o suor do momento e nós somos gratos pelo trabalho das editoras executivas, dos autores, dos pareceristas, dos revisores e, também, dos diagramadores que fizeram parte desse esforço.
A ultrapresença das tecnologias digitais em processos cotidianos é objeto de três produções artísticas que apresentamos neste primeiro número de 2021 — as três dialogando com distopias a seus modos.
Dentre os artigos selecionadospara esta edição, identificamos três tendências. A primeira, a consolidação de discussões em internet e sociedade. É o caso da publicação de Jéssica Guedes Santos, com um balanço da cobertura da mídia sobre reconhecimento facial (e de sua insuficiência), a de Luísa Martins Barroso Montenegro, sobre a produção acadêmica brasileira em governança da internet e governança digital, e o de Veruska Sayonara de Góis, que sistematiza como a internet é abordada na jurisprudência constitucional em relação à liberdade de comunicação. A segunda, questões de tecnologia envolvendo a pandemia: Thayla Bicalho Bertolozzi trabalha as invasões racistas, sexistas e lgbtfóbicas em eventos virtuais durante a pandemia, e Jacqueline de Souza Abreu aborda as consequências para o direito à privacidade trazidas por tecnologias de combate à Covid-19.
Por fim, esta edição traz um conjunto de peso de trabalhos sobre comunicação política e pós-verdade, tema já constante na Internet&Sociedade. São cinco artigos tratando desde campanhas em páginas do Facebook até discussões jurídicas sobre desplataformização e populismo digital. A resenha de Artur Borghi aborda um novo clássico no assunto: “A máquina do ódio”, da jornalista Patrícia Campos Mello. Como essas discussões vêm ocupando ampla presença na mídia, no judiciário e no debate político como um todo, vemos sua grande presença na Revista como uma contribuição para densificar essas discussões no Brasil.
Vale ressaltar ainda o artigo de Thiago Nagafuchi, escrito a partir de uma etnografia em ambientes digitais feita em seu doutorado na Faculdade de Saúde Pública, traz à luz relações entre internet e suicídio e pessoas LGBTQIA+ — e mostra a vocação interdisciplinar desta revista.
Boa leitura e até o próximo número!
Francisco Brito Cruz e Mariana G. Valente
Os editores