Carta dos Editores
O segundo número da Revista Internet&Sociedade chega ainda em 2020, ano da pandemia de covid-19 e de grande agitação nos debates sobre o digital. Neste ano, os processos de produção e submissões de trabalhos passaram uma pressão no mínimo tripla: os nossos temas ganharam urgência, o trabalho acadêmico ficou dificultado pela crise econômica e restrições sanitárias, e os fluxos, que dependem de tantas pessoas, sofreram pelo mesmo motivo. Enquanto isso, as discussões em torno de questões envolvendo a internet foram impactadas por grandes acontecimentos no campo regulatório, político e social: o Congresso Nacional desencadeou um caloroso debate sobre a “Lei das Fake News” e determinou o início da vigência da Lei Geral de Proteção de Dados, aprovada em 2018; tecnologias de rastreio foram utilizadas como tentativas de prevenção da pandemia; o Supremo Tribunal Federal tomou decisões importantes sobre proteção de dados, vigilância das comunicações, e expressão nas redes sociais; foram realizadas eleições municipais na esteira de um intenso debate sobre desinformação e marketing político digital; e os debates sobre discriminação algorítmica, em especial envolvendo questões raciais, conquistou centralidade no Brasil, nos Estados Unidos e em muitos outros países também.
Embora possa levar um tempo para que transformações tão intensas sejam expressas em trabalhos acadêmicos, este número expressa a pujança e diversidade do estado atual das discussões sobre internet e sociedade, com mais de uma dezena de trabalhos de diferentes disciplinas e metodologias. Alguns aprofundam aspectos de temas que já foram tratados nesta Revista, como o debate regulatório sobre dados pessoais e sobre desinformação; outros representam incursões pioneiras em assuntos menos explorados no Brasil, como, por exemplo, os artigos sobre marketing de influência e sobre o impacto urbanístico das plataformas de aluguel por temporada.
Ainda, a Internet&Sociedade segue abrindo espaço para produções artísticas, resenhas e para traduções de produções relevantes em língua estrangeira– desta vez, de textos bastante instigantes sobre regulação de tecnologia na China.
Incentivar a produção interdisciplinar em estudos de internet no país é tarefa contínua, que precisa de espaços e plataformas reiteradamente abertos, para o encontro, a troca e o dissenso. Renovamos aqui nosso compromisso que esta Revista seja um destes espaços.
Francisco Brito Cruz e Mariana G. Valente
Os editores